Os pesquisadores Ron Fouchier e Ab Osterhaus, do Centro Médico Erasmus, de Roterdã, na Alemanha, defenderam em artigo na revista especializada Nature a publicação de um estudo sobre a criação em laboratório de uma forma do vírus da gripe aviária mais perigosa que a conhecida.
A Nature e a Science sofreram pressão do governo americano e não publicaram a pesquisa. As duas revistas estudam a possibilidade de publicar de forma parcial. Fouchier e Osterhaus afirmam que não questionam a recomendação do Conselho Consultivo Nacional sobre Ciência e Biossegurança (NSABB, na sigla em inglês), que pede que os pontos principal do artigo não apareçam para evitar o uso por terroristas que poderiam causar uma epidemia da doença.
"Mas fazemos questão de saber se é adequado ter um país que domine uma discussão que tem impacto sobre os cientistas e autoridades de saúde pública em todo o mundo", escrevem Fouchier e Osterhaus na revista. Os cientistas afirmam que essa decisão deveria ser feita com especialistas de todo o planeta, e não cair nas mãos apenas dos Estados Unidos.
"Não há um equivalente global ao NSABB, mas muitos especialistas europeus que foram citados pela imprensa acreditam que a pesquisa deva ser publicada integralmente. Nós não saberemos a opinião global até um grupo de especialistas de toda a parte do globo seja formado. Uma questão tão grande não deve ser decidida por um único país, mas por todos nós", dizem os cientistas.
Os críticos A Nature publicou 10 comentários sobre a possibilidade de publicação do artigo. Entre os críticos da possibilidade de publicação completa da pesquisa, Richard H. Ebright, da Universidade de Pittsburgh (EUA), afirma que a criação de um vírus de gripe aviária (chamado de H5N1) que poderia levar a uma pandemia seria uma "arma biológica suprema, desconhecida mesmo na ficção científica".
"A maior preocupação é com uma liberação acidental, por exemplo através da infecção de um funcionário de laboratório que infecte outros. Liberações deliberadas através de um trabalhador de laboratório descontente, bioterrorismo e guerra biológica também são preocupantes", diz o pesquisador.