Em um discurso desafiador de quase duas horas, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou nesta sexta-feira que uma guerra contra o país persa seria prejudicial aos EUA e que Teerã está pronto para ajudar qualquer nação ou grupo que enfrente o "canceroso" Israel. As declarações foram feitas um dia depois de o secretário americano de Defesa, Leon Panetta, declarar que teme a possibilidade de um ataque israelense contra as instalações nucleares do Irã a partir de abril.
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Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, segura arma enquanto discursa durante as preces de sexta-feira na Universidade de Teerã
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"Às vezes eles dizem que todas as opções estão sobre a mesa, mesmo a opção de uma ação militar", disse Khamenei em discurso durante as preces de sexta-feira em Teerã transmitido pela TV estatal. "É dessa forma que nos ameaçam. Bem, essas ameaças são prejudiciais aos EUA. A própria guerra será dez vezes mais prejudicial aos EUA", afirmou no pronunciamento por ocasião do aniversário da Revolução Islâmica de 1979.
Khamenei, que alertou que qualquer ataque militar dos EUA só fortaleceria ainda mais o país persa, também advertiu que o Irã ajudará qualquer um que combata Israel. "O regime sionista é realmente o tumor cancerígeno dessa região e precisa ser removido e será removido", disse o líder supremo em meio aos gritos da multidão.
Em um raro reconhecimento da intervenção do Irã contra Israel, o líder supremo afirmou que país persa prestou assistência a grupos militantes como o libanês Hezbollah e o palestino Hamas - uma política bem conhecida, mas que os líderes iranianos raramente abordam explicitamente. "Intervimos em questões anti-Israel, e isso levou à vitória na guerra de 33 dias do Hezbollah contra Israel em 2006 e na guerra de 22 dias" entre Hamas e Israel na Faixa de Gaza, disse.
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A incursão militar em larga escala de Israel contra o Hamas em 2008 e 2009 em Gaza terminou em um cessar-fogo, com Israel alegando ter infligido danos pesados contra a organização militante. A guerra no Líbano terminou com uma trégua alcançada pela ONU, que enviou militares de soldados libaneses e tropas de paz internacionais ao sul do país para evitar um novo conflito.
"De agora em diante, em qualquer lugar, se qualquer nação ou grupo confrontar o regime sionista apoiaremos e ajudaremos. Não temos nenhum medo de dizer isso", afirmou.
Khamenei também reiterou que o país continuará com seu controverso programa nuclear, que a comunidade internacional suspeita ter fins militares, afirmando que o Irã poderá fazer retaliações contra as recentes sanções petrolíferas ocidentais. O Irã diz que suas atividades nucleares têm propósitos pacíficos, como a geração de energia e a produção de isótopos médicos.
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No dia 23, a União Europeia aprovou um embargo às exportações de petróleo do Irã e o congelamento dos bens do Banco Central do país. Em dezembro, o governo dos Estados Unidos também aprovou sanções contra o setor petrolífero iraniano.
As sanções, que se somam a outras impostas nos últimos anos, têm o objetivo de pressionar o governo iraniano a suspender o enriquecimento de urânio e retomar as negociações sobre seu programa nuclear. Mas as declarações do líder supremo, que tem a palavra final em quaiquer questões de Estado, deixa claro que Teerã não mudará de posição.
Khamenei também advertiu que Teerã revelaria uma carta em que, segundo ele, o presidente americano, Barack Obama, enviou à liderança iraniana em uma tentativa de pôr fim ao impasse nuclear. De acordo com ele, a carta mostraria que não se pode confiar nos americanos. A Casa Branca negou que tal carta exista.
Em janeiro, um legislador iraniano afirmou que Obama havia pedido em uma carta secreta por negociações diretas com o Irã, correspondência que também alertava o país contra o fechamento do Estreito de Ormuz - por onde passa um quinto do petróleo mundial. Em reiteradas vezes, o Irã ameaçou fechar o estreito em retaliação às sanções impostas contra o país.
Possível ataque de Israel
Na quinta-feira, o jornal The Washington Post noticiou a preocupação do secretário de Defesa dos EUA em relação a um ataque israelense. Segundo o colunista David Ignatius, Panetta acredita que Israel poderá bombardear instalações nucleares iranianas entre abril e junho, antes que a República Islâmica consiga entrar naquilo que os israelenses descreveram como sendo uma "zona de imunidade" que lhe permitiria iniciar a produção de uma bomba atômica.
"Muito em breve, temem os israelenses, os iranianos terão acumulado suficiente urânio enriquecido em instalações subterrâneas profundas para fazer uma arma - e então só os Estados Unidos poderão impedi-lo militarmente", escreveu Ignatius.
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Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prepara-se para sermão durante preces de sexta-feira. Logo atrás, de casaco cinza, está presidente Mahmud Ahmadinejad
Panetta e o Pentágono não quiseram comentar publicamente a informação. Khamenei disse que qualquer ação militar dos EUA contra o Irã terá efeito contrário ao esperado, e que as "dolorosas e paralisantes" sanções ocidentais só servirão para estimular a perseverança iraniana.
"O Irã não recuará. Então, o que acontecerá?", indagou Khamenei. "Em resumo, a hegemonia do Ocidente e ameaças serão desacreditadas" no Oriente Médio. "A hegemonia do Irã será promovida. Na verdade, isso será a nosso favor."
Fonte:http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/ira-diz-que-guerra-prejudicaria-eua-e-chama-israel-de-cancer/n1597612340690.html