Guias de sobrevivência dão dicas de como superar até um apocalipse zumbi
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As teorias apocalípticas relacionadas ao calendário maia
atormentam muita gente. Céticos podem duvidar, mas tem quem esteja
construindo
casas fortificadas,
encomendando bunkers,
estocando comida e
se mudando para lugares altos.
Como não há indicação do quê promoverá o "fim do mundo", os mais
assustados tendem a se precaver de catástrofes diversas. Aproveitando
esse nicho, guias de sobrevivência na internet estão ganhando
popularidade ao tratar de perigos como armas nucleares, ataques
cibernéticos, terremotos devastadores e tsunamis gigantescos.
Nessa onda, sobrou até para os zumbis, tema da maioria dos manuais de
sobrevivência encontrados na web. O criador do guia "10 coisas
essenciais para sobreviver ao Apocalipse Zumbi: Um Guia Prático", John
Hornor Jacobs, admite que um apocalipse zumbi não é nem remotamente
possível. "Há um milhão de maneiras para que a raça humana seja extinta -
poluição, guerra nuclear, guerra bioquímica, pragas em níveis de
pandemia -, mas não zumbis. Zumbis, no entanto, seriam a maneira mais
divertida para o mundo acabar", alega.
Além de prever o fim mais divertido - uma horda de mortos-vivos
promovendo o caos no planeta -, os guias são válidos para outros tipos
de catástrofe, segundo os autores. "Se você está preparado para o
apocalipse zumbi, você está preparado para enfrentar qualquer desastre",
afirma Kristan Nickels, do Conselho de Administração e Mídia do
Esquadrão Zumbi (Zombie Squad).
Comida, comida, comida
Os guias de sobrevivência fornecem desde as dicas mais comuns, de obter e
estocar água e comida, até as mais inusitadas, como não ir ao
supermercado e usar um cinto para segurar as calças depois de perder
peso. Para Nelson Aguilar, autor de três guias de sobrevivência - contra
armas nucleares, ataque cibernético e, claro, zumbis-, a busca pela
sobrevivência começa com a obtenção ou estoque de alimento, pois ele
ficaria escasso rapidamente. O próximo passo seria encontrar abrigo e
armas. "Não há vantagem em ter água e comida se você está congelando no
meio selvagem. As armas seriam úteis para dissuadir qualquer perigo
(animais ou pessoas)", esclarece.
Assim, Aguilar sugere que você vasculhe a sua garagem e busque por
ferramentas e suprimentos. Ele garante que, em poucos minutos, você deve
encontrar facão, machado, taco de beisebol, motosserras e martelos.
"Como todos sabem, o caminho número um para incapacitar um zumbi é
destruindo sua cabeça, portanto qualquer tipo de objeto contundente que
possa causar grandes traumas na cabeça seria fantástico", explica. Caso
você não encontre nada na sua casa, ele recomenda que você vá nas casas
vizinhas, que devem estar desocupadas (ou ocupadas por zumbis). "Depois
de matar seus vizinhos (zumbis), você vai querer procurar o essencial.
Não perca tempo tentando roubar dinheiro ou objetos de valor. Este não é
mais o mundo onde você costumava viver - dinheiro não importa mais",
aponta.
Em um cenário onde o dinheiro, a civilidade e o bom senso tradicional
perdem valor, as pessoas tenderiam a perseguir impulsos antes
condenáveis, como o de invadir loja ou supermercado e dar vazão à
pilhagem. Mas não se levarem os guias de Aguilar a sério: "Eu não sei
quantas vezes eu tenho que dizer isso, mas não vá ao Walmart. Você
entende que, se você for ao Walmart para saquear, você vai dar de cara
com cada idiota que achou que roubar o Walmart era uma boa ideia? Em vez
de encontrar as ferramentas que você precisa, você vai encontrar-se
lutando contra pessoas que estão desesperadas por suprimentos. É como
fazer compras no Black Friday, só que dez vezes pior", exemplifica.
Assim como Aguilar, Jacobs também tem uma regra parecida em seu guia
de sobrevivência: "Faça o que você fizer, não vá a um grande ponto de
venda na esperança de viver a sua fantasia de consumo
Dawn of the Dead. É onde as pessoas estúpidas vão, e as pessoas estúpidas geralmente tornam-se zumbis", completa.
Quem faz
Uma pequena investigação revela o que leva alguém a criar guias de
sobrevivência. "Oi. Eu sou Traci. Este site começou como uma maneira de
manter e organizar minha própria pesquisa sobre habilidades de
sobrevivência a desastres", escreve a americana Traci Knoppe na
descrição de seu Guia de Sobrevivência ao Apocalipse, o qual também
possui versão impressa. "Se você ligar a TV, ler o jornal ou ouvir as
notícias no rádio, parece que há sempre algum desastre acontecendo no
mundo todo dia. Para mim, parece que eles estão acontecendo mais
seguidamente. Não entro em pânico nem sou extremista, mas tenho uma
família a considerar, e um pouco de preparação é inteligente". Uma das
dicas mais recorrentes de Traci é a manutenção de uma mochila preparada
para o pior, que contenha: tabletes purificadores de água, isqueiros,
fósforos, roupas, pratos, faca, lanterna, pilhas recarregáveis (todos os
tamanhos), mapa, casaco, vitaminas, aspirinas, antibióticos, sabonete,
entre outros.
Liquidando a sobrevivência
Em outro extremo, alguns guias de sobrevivência não utilizam o humor de
zumbis nem parecem iniciativas pessoais como a de Traci. "Sua famíla não
está protegida contra um ataque terrorista, furacão, tornado ou uma
inundação", anuncia, em fonte vermelha, o site "Survive Anything"
("Sobreviva a tudo", em português). "Eles sobreviverão? Se o governo
cair amanhã, você poderá protegê-los e alimentá-los? Eles morrerão
porque
você não está preparado?".
Assim, como se realmente não houvesse amanhã, a página conduz o
leitor através de dezenas de fatos impressionantes sobre tragédias e
indica que comprar um bunker não se trata da melhor garantia para se
proteger em uma catástrofe. Todas as informações - supostamente as
melhores dicas para se salvar em situações caóticas - são reveladas
apenas parcialmente, a fim de levar o leitor a comprar o guia, há algum
tempo em promoção por US$ 49. Estão entre os tópicos: "Quanta comida
guardar em casa, como trancar perfeitamente sua residência em caso de
ataque terrorista e o que modificar no quarto de seus filhos para evitar
danos ainda maiores em caso de furacões".
Prepare-se: fogo não adianta
De graça, resta a precaução. Para Dana Martins, autora de um manual de
sobrevivência contra zumbis no blog Conversa Cult, do qual é fundadora, o
mais importante é planejar um plano de ação. "Já cansei de ver gente
falando que mataria zumbi tacando fogo", ironiza. E foi pensando nisso
que ela criou o guia - para dar dicas úteis em vez de "você precisa
saber correr", como ela mesmo relata em seu texto.
Uma dificuldade encontrada por Dana, no Brasil, é a falta de acesso a
kits de emergência, que são comuns nos EUA e em outros países. Por
isso, ela dá uma dica: "Anote o endereço das lojas mais próximas na sua
rota de fuga, porque é claro que você já tem uma rota de fuga, né? O
nome disso é preparação, principal base para sobreviver em qualquer tipo
de apocalipse", enfatiza.
Autossuficiência
Quem também compartilha dessa regra é o pessoal do Esquadrão Zumbi, que
se dedica a orientar na preparação para desastres. "A chave para
sobreviver a qualquer desastre é educar-se e ter um plano", reforça
Nickels. O grupo originou-se de uma discussão após um filme, sobre como
eles sobreviveriam melhor do que os personagens da história. Desde
então, o esquadrão amealhou mais de 5 mil membros de carteirinha e 50
mil membros online espalhados pelo mundo. "O tema sobrevivência zumbi
fornece um contexto divertido para aprender habilidades básicas de
sobrevivência, sem os estigmas ligados a quem é chamado de 'survivalist'
(termo utilizado para descrever pessoas que dedicam sua vida a planejar
a sobrevivência na hora do apocalipse)", informa.
As dicas do Esquadrão Zumbi têm, como objetivo, tornar as pessoas
autossuficientes em caso de desastre. "Quanto menos pessoas tivermos lá
fora, correndo ao redor, tentando reunir suprimentos no último minuto e
aumentando o caos, melhor para todos nós. Queremos que as pessoas
aprendam a cuidar de sua própria comunidade e delas mesmas, em vez de
esperar que alguém venha salvá-las", aponta. Algumas dicas de
sobrevivência parecem piada à primeira vista, como a utilização de um
cinto personalizado, à venda na página. Mas, sob o prisma caótico do fim
dos tempos, talvez tenha sentido: "(Em um apocalipse zumbi) Você vai
perder algum peso. Provavelmente muito. E você vai ter um tempo difícil
correndo de zumbis com as calças caindo em torno de seus tornozelos",
alegam.
Depois do fim
Caso alguém sobreviva aos zumbis, ao tsunami ou à colisão do asteroide,
há sites que vão além do apocalipse. Doom Survival Guide ("Guia de
sobrevivência em meio à destruição") se descreve como um manual de
sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico. A página se apresenta
imediatamente como fonte de informações para quem aceita que o planeta
acabará, mas não tenta adivinhar como isso vai acontecer. "Se você está
aqui, é porque provavelmente tem suas próprias ideias", diz. Entre as
possibilidades ventiladas, encontram-se mudança climática, guerra
mundial, asteroides, colapso econômico e tsunami galáctico ("seja lá o
que for isso"). Para se precaver, o leitor pode fazer o download do guia
e imprimi-lo. A leitura abrange o uso medicinal de plantas, dicas para a
criação de coelhos, o melhor tratamento para lesões nos joelhos,
técnicas de fuga em caso de perseguição e maneiras de construir um
abrigo. Ficou em dúvida de como planejar um jardim pós-apocalíptico?
Entre no chat que o site disponibiliza.
O fim
Mesmo entre os autores dos guias de sobrevivência, não há consenso sobre
as causas do fim do mundo. "Pessoalmente, eu não acredito que o mundo
vai acabar em 21 de dezembro de 2012", avisa Aguilar. "Nós tivemos esses
mesmos sustos antes. As pessoas adoram criar uma história a partir do
nada e criar medo na comunidade". Da mesma forma, Jacobs também não crê
nas teorias relacionadas ao calendário maia. No entanto, se tivesse que
dar um palpite, ele acredita que uma pandemia global de algum tipo de
supergripe, como H1N1 ou alguma mutação do vírus, seria a mais provável.
Independentemente do cenário, Nickels diz que o Esquadrão Zumbi está
preparado. "O apocalipse zumbi é o pior cenário quando se olha para
outros possíveis desastres. Queremos que o público esteja pronto para
qualquer coisa, de um desastre natural, como um furacão ou terremoto, a
um apocalipse zumbi", finaliza. E, no caso do horror global desencadeado
pelos mortos-vivos, vale sempre lembrar de uma das regras propostas por
Aguilar: "Mirar na cabeça, sempre ter cuidado, dormir com um olho
aberto e não confiar em ninguém".
Fonte:
http://noticias.terra.com.br/ciencia/fim-do-mundo/noticias/0,,OI6363819-EI21082,00-A+dias+do+fim+do+mundo+a+internet+ensina+como+sobreviver.html