O ponto alto foi quando me deixaram bombardear Marte. Na ficção científica, as guerras entre a Terra e suas colônias interplanetárias são um elemento de um futuro distante, mas não era isso.
Antes de entrarmos em guerra com Marte, seria preciso que existissem pessoas vivendo lá, para lutarem.
Na parte final da mostra Além do Planeta Terra: O Futuro da Exploração Espacial, que estreia sábado no Museu Americano de História Natural, o visitante é confrontado com uma chance de ajudar a fazer com que o planeta vermelho, que atualmente é um deserto congelado, se torne habitável.
Usando uma tela interativa do tamanho e formato de uma mesa de pingue-pongue, você pode brincar de Deus e dirigir a evolução futura de Marte. A primeira tarefa é tornar sua atmosfera mais espessa e quente, pela liberação de dióxido de carbono - um gás do efeito estufa - a partir do seu solo e das calotas congeladas. Você pode bombardear o planeta - embora, para meu desapontamento, não possa direcionar as bombas - ou pode espalhar poeira negra nas calotas congeladas, fazendo com que elas absorvam a luz solar e derretam mais rapidamente. As duas coisas fizeram com que eu me sentisse deliciosamente perverso, como um menino de seis anos de idade.
Você pode até mesmo construir fábricas com altas chaminés que expelem fumaças ondulantes. "Estou poluindo Marte", exclamei, provocando risadinhas sabidas nos membros da equipe do museu, próximos. Afinal de contas, nós praticamos isso há 500 anos, na Terra.
A ideia do programa espacial como uma exposição de museu pareceu-me selvagem e sombriamente apropriada, quando a escutei pela primeira vez. Nós pensamos em museus como locais para coisas mortas e antigas, e o programa espacial - pelo menos o programa espacial dos Estados Unidos - parece pronto para ter seu próprio diorama, enquanto os ônibus espaciais são desativados, os pousos na lua ficam para trás como história antiga, e a ciência espacial é desmantelada lentamente por cortes de verba e estouros de custos nos poucos programas restantes.
Ainda bem que não temos que reviver tudo isso. O conceito da exposição é olhar para 50 ou 100 anos no futuro, e não para o passado, diz Michael Shara, curador da mostra. "Nós estamos em uma encruzilhada", diz ele. "Temos que decidir o que vamos ser quando crescermos. Onde está a visão?"
Nesse caso, a visão pertence somente a Shara, ele admite, proveniente de suas conversas com especialistas espaciais. Para que você não fique muito entusiasmado, é melhor saber que ela não representa a agenda oficial da Nasa, e nem de nenhum outro órgão oficial.
O mundo precisa muitíssimo de algum tipo de plano cósmico que ande para a frente, caso realmente haja a intenção de ir para a frente e para fora, e embora possamos nos perder nos muitos detalhes, este plano é tão bom quanto qualquer outro. As pessoas podem fantasiar que essa mostra poderia ter, sobre a formação das expectativas públicas a respeito do espaço, o mesmo impacto de longo prazo que tiveram os artigos de revistas e os programas de TV dos anos 50. Nesse caso, espero que essas expectativas viajem até outros países que estão nos estágios iniciais de seus programas espaciais, como a China.
Aqueles que acreditam que os voos espaciais humanos sejam ridiculamente caros, perigosos, não-científicos e esbanjadores - um grupo que inclui muitos cientistas que conheço - deveriam parar de ler aqui mesmo. A mostra apela descaradamente àqueles entre nós que há muito tempo foram cativados por sonhos de ficção científica e pela noção de que o destino da humanidade de alguma forma está ligado às estrelas. Para a maioria, esses planos não vêm com uma etiqueta de preço e, falando nisso, nem com nenhuma indicação sobre qual moeda deveria definir esse preço.
"Alguém irá fazer essas coisas", diz Shara. "Talvez não nos Estados Unidos."
Claro, na época em que vivemos, existe um aplicativo de iPhone para acompanhar a mostra. Aponte seu celular para uma das diversas estações especiais, e informações adicionais serão baixadas diretamente para suas mãos; você pode recebê-las e enviá-las por e-mail. E a exposição refere-se fielmente aos oito planetas do sistema solar - Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno - o que me dá desgosto, todas as vezes. Na minha concepção, Plutão ainda é um planeta. Mas isso não tem importância, comparado ao ânimo que a exposição fornece para um cansado menino de ficção científica.
Fiel à visão de Shara, a mostra passa rapidamente pelo passado, iniciando apropriadamente com as conquistas da antiga União Soviética, que colocou em órbita o primeiro satélite, enviou o primeiro homem e a primeira mulher para o espaço, e tirou as primeiras fotografias do lado oculto da lua. Em seguida, passa às façanhas espaciais dos Estados Unidos: os pousos na lua, o ônibus espacial e um modelo do astronauta John Grunsfeld, inserindo uma nova câmera no telescópio espacial Hubble, em 2009 - as ferramentas reais que ele usou naquela missão estão penduradas no cinto do boneco.
Mas pare para sentir o aroma da poeira lunar ("parece pólvora queimada", segundo o comandante da Apollo 17, Gene Cernan), recriado por químicos da Nasa.
Agora, a indústria privada está começando a ocupar o lugar que antigamente pertencia à Nasa. Por US$ 200 mil, você pode reservar um voo até a beira do espaço, a bordo do SpaceShipTwo, o avião espacial que está sendo desenvolvido pela companhia de Richard Branson.
Mais cedo ou mais tarde - no ano de 2030, diz aqui - os humanos irão retornar àquela paisagem cinza e sem ar. "Apenas uma viagem de três dias em uma espaçonave, convida à luminosa lua", observa a exposição, em uma linguagem de folheto de viagens.
Em seguida nos vemos dentro da cratera Shackleton, uma depressão perto do polo sul da lua, onde as sombras permanentes podem esconder o gelo remanescente de antigos impactos de cometas, fazendo com que o lugar seja propício para uma base lunar. Os habitantes lunares irão se manter ocupados, explorando a mineração de hélio 3, uma forma rara desse elemento, útil para reatores de fusão. Outra tarefa poderia ser construir e depois cuidar de um telescópio de um quilômetro de comprimento, cujo espelho seria feito de líquido giratório, com sua superfície revestida de nanopartículas de ouro.
Eles irão trafegar pela superfície lunar em um buggy com rodas de trator, e dormir em cômodos parecidos com balões, enviados da Terra e depois inflados.
Chegar lá também será interessante. Até lá, imagina Shara, já teremos abandonado a violência dos foguetes, e iremos descer e subir da superfície lunar através de um elevador lunar, "um fino cabo elevando-se a milhares de milhas da lua até o céu", ancorado em sua extremidade final pela própria gravidade da Terra. Com o tempo, diz Shara, o cabo poderia ser estendido até percorrer quase todo o caminho até a Terra.
Virando a esquina depois de Shackleton, um modelo em escala do asteroide Itokawa está pendurado no teto, cheio de calombos e com aparência bruta. Ele foi visitado em 2005 por uma espaçonave japonesa, a Hayabusa, que voltou trazendo amostras. Os asteroides, que foram declarados alvo da exploração espacial profunda pela gestão de Obama, representam um tipo de alfa e ômega do cosmo. Os astrônomos acreditam que eles forneceram suporte de vida em forma de água e materiais orgânicos para a Terra, muito tempo atrás. Algum dia, num futuro distante, um asteroide poderia, numa colisão com a Terra, extinguir toda a vida do planeta.
Essa é mais uma razão para olharmos com cobiça para Marte, que apresenta mais possibilidades nessa região dos cosmos, e há muito é o caldeirão de nossas fantasias espaciais. Para mim, Marte é o coração emocional e centro de gravidade da exposição.
A mostra apresenta um teste psicológico que você pode fazer para ver se conseguiria tolerar o nível de detalhes, estresse e solidão exigido por um voo até lá. Eu fracassei miseravelmente. Se você conseguir chegar lá mesmo assim, você poderia usar novos uniformes espaciais que se ajustam às suas formas e fazem com que você fique parecendo um super-herói - os visitantes podem posar, como se estivessem usando esses uniformes.
Um modelo em tamanho real do Laboratório de Ciências de Marte, também conhecido como Curiosidade, o mais novo "rover", agendado para ser lançado até Marte neste mês, domina a cena. Inclinado sobre uma duna de areia vermelha, ele parece uma criatura pré-histórica com uma cabeça superdesenvolvida, farejando o solo.
Em certa época, sonhávamos com discos voadores vindos de Marte; agora, talvez seja Marte que sonha com visitas de nossa parte. Águas corriam em Marte, num passado distante. Agora o planeta está seco, com uma atmosfera de aproximadamente 2% da pressão da nossa. Em um dia bom, parece a Antártica. Alguma coisa já viveu por lá? Alguma coisa irá, algum dia, conseguir viver lá?
Alguns geólogos acreditam que Marte poderia ser transformado - ou "terraformado" - em um planeta habitável com o tempo, no qual poderia existir o maior e mais caro projeto de engenharia de todos os tempos, que poderia levar milhares de anos e implicar na mãe de todas as demonstrações de impacto ambiental e, sim, em "trilhões de dólares". Apenas trilhões?
Bombardear o planeta para "engrossar" sua atmosfera foi apenas o começo; o próximo passo seria semeá-lo com bactérias, algas e árvores, para fazer fluir o oxigênio. Na mesa da "terraformação", todas as minhas antigas fantasias pré-adolescentes de ficção cientifica voltaram à vida. Se isso não fosse ocorrer durante a minha vida, pelo menos iria ocorrer durante a vida de alguém.
Nem todos concordam que esse esquema poderia funcionar, e nem que teríamos o direito de fazê-lo funcionar. Nós provavelmente nunca seremos capazes de dizer que não existem micróbios, escondidos em alguma parte de Marte - profundamente enterrados, por exemplo. Eles, juntamente com qualquer potencial evolutivo que pudessem vir a ter, seriam destruídos.
Mesmo assim, Shara diz ter fortes suspeitas de que nós iremos "terraformar" Marte. "Isso segue a tendência humana do expansionismo, da colonização, da necessidade de sermos incorporadores imobiliários".
A esta altura, é claro, com as flores crescendo em Marte e os colonos abandonando seus domos para viver a céu aberto, estamos olhando milhares de anos dentro do futuro. Mas a jornada ainda está apenas começando.
Ande ao estilo
Jornada nas Estrelas para dentro do holograma no final da exposição, e você estará rodeado por milhares de pontos de luz, representando os primeiros milhares de estrelas descobertas pela sonda espacial Kepler, que possuem planetas. A Kepler ainda está apenas começando seu trabalho de caçar planetas. Com certeza existem muitos mais planetas na Via Láctea, que poderiam ser usados como trampolins para a expansão cada vez mais profunda no espaço, através da eternidade.
"É para lá que nós podemos ir; para onde deveríamos ir, se tivermos coragem", diz Shara, "e foco".
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