Liberação de metano que ocorre na Sibéria será causa, no futuro, de danos superiores aos ganhos para a economia global, como inundações e secas ou talvez uma grande erupção
O gás metano que está se desprendendo no Ártico graças ao derretimento maciço das geleiras – e que está se acelerando a cada verão – é “uma bomba-relógio” que será bastante visível nos litorais, acelerará a mudança climática e, para a economia global no curto prazo, irá causar perdas superiores aos ganhos globais, afirmou um grupo de cientistas de três universidades britânicas.O estudo concluído após 40 anos de análise dos efeitos do metano liberado pelo “desaparecimento do gelo marinho no verão do Ártico”, mostra que os líderes mundiais não têm considerado as perdas econômicas trazidas pelas próximas enchentes, secas e problemas de saúde causados pelas mudanças climáticas aceleradas, nem é considerado que este metano pode ser liberado em uma grande erupção.
As reservas de metano podem ser “centenas de milhares de toneladas de um gás muitas vezes pior do que o dióxido de carbono para o aquecimento global”, adverte o relatório publicado pela Universidade de Cambridge. Mas isso não é tudo, acrescentam os cientistas, porque foram calculados os efeitos de “apenas uma fração” de todo o metano que será liberado na atmosfera em um futuro próximo. Isso então, acrescentou, poderá “possivelmente causar uma mudança climática possivelmente catastrófica.”
Os cientistas alertam que, para alguns economistas, o que acontece no Ártico é benéfico para a extração de petróleo e gás. Alegam inclusive que a abertura de novas rotas de navegação pode significar investimentos de bilhões de dólares, porém apenas considerando uma área de degelo, na Sibéria, constatou-se que o resultado foi uma perda de 60 bilhões de dólares. “O tamanho da economia global em 2012,” declaram os autores.
“Esta elevação maciça de metano terá importantes implicações para as economias globais e as sociedades”, especialmente as emergentes, assegura Peter Wadhams, professor de física na Universidade de Cambridge, de acordo com relatório da Universidade de Rotterdam.
Wadhams, junto com os outros estudiosos, publicou seu estudo com uma “advertência ao mundo” e sublinhou que “os líderes mundiais, do Fórum Econômico Mundial e do FMI devem prestar mais atenção a esta bomba relógio invisível”, diz a Universidade de Rotterdam.
O metano pode ser liberado em uma grande erupção
Na realização do estudo, a equipe analisou a perda de metano que ocorre hoje em dia, emergindo do fundo do mar da Sibéria Oriental. Em análises adicionais, ressaltou que se desconhece se essa perda continuará “progressivamente ao longo dos próximos 30 anos, ou se haverá uma erupção gigantesca”, disse a Universidade de Cambridge.
Os autores calcularam que nesta região serão lançadas cerca de 50 gigatoneladas de metano, e reiteraram que esta é apenas uma fração do total emitido pelo derretimento do Ártico. O preço total das mudanças no Ártico significa multiplicar a emissão da Sibéria, ou seja, 60 bilhões de dólares em prejuízos.
Por esta razão, “o impacto global de um aquecimento do Ártico é uma bomba relógio econômica”, também confirma Gail Whiteman, Professor de Sustentabilidade, Gestão e Mudanças Climáticas da Universidade de Rotterdam, em um comunicado.
“A liberação de metano poderia avançar até a data em que o aumento da temperatura média mundial ultrapasse 2 graus Celsius entre 15 e 35 anos”, disse Chris Hope, Professor do Curso de Política da Escola de Administração da Universidade de Cambridge, de acordo com relatório.
Ausência de medidas de controle
Hope destaca em seu estudo que o custo estimado de 60 bilhões de dólares é causado pela ausência de medidas de controle da mudança climática, no entanto, como no modelo estudado não foram incluídos os efeitos da acidificação dos oceanos, os autores do estudo advertem que o custo real poderá inclusive ser muito maior.
Países em desenvolvimento, os mais atingidos
“Oitenta por cento desses custos serão suportados pelos países em desenvolvimento; à medida que eles experimentam um clima mais extremo, sofrerão com as inundações, as secas e os problemas de saúde graças ao aquecimento do Ártico, acrescentaram os pesquisadores, de acordo com a Universidade de Rotterdam.
Para Wadhams, Whiteman e Hope, o impacto do degelo será muito maior do que os “benefícios de curto prazo para o transporte marítimo e a extração” de petróleo e gás.
Os estudiosos dizem que os líderes mundiais “perdem o foco” e não levam em conta as projeções de metano do Ártico. “Nem mesmo o Fórum Econômico Mundial e o Fundo Monetário Internacional reconhecem o perigo econômico da mudança no Ártico.”
O estudo
Os três pesquisadores estudaram o desaparecimento do gelo do Ártico por 40 anos, e antes de publicar os resultados afirmaram que fizeram testes do modelo utilizado mais de 10 mil vezes para revelar dados confiáveis.
Os cientistas enfatizam que as projeções são baseadas em trabalho anterior feito na região pela Dr. Natalia Shakhova e seus colegas do Centro de Pesquisa Internacional do Ártico da Universidade do Alasca. Para Wadhams, eles são “as únicas pessoas com o conhecimento geológico suficiente para fazer estimativas das emissões de metano nesta área.”