O Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, admitiu esta quinta-feira ter pedido ao homólogo russo, Vladimir Putin, ajuda para vigiar a fronteira com a União Europeia (UE), para onde Moscovo enviou bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear.
As missões marcaram a segunda vez em dois dias que a Rússia enviou bombardeiros com capacidade nuclear para os céus da Bielorrússia.
“Sim, são bombardeiros capazes de transportar armas nucleares. Não temos outra alternativa. Precisamos de saber o que fazem do lado de lá da fronteira”, afirmou Lukashenko durante uma reunião do executivo bielorrusso.
O Presidente da Bielorrússia pediu segunda-feira a Putin para se juntar às operações, após a eclosão da crise migratória na fronteira com a Polónia, onde milhares de imigrantes do Médio Oriente tentam entrar no espaço da UE.
“[Moscovo] enviou bombardeiros estratégicos escoltados pelos nossos caças. Temos de monitorizar continuamente a situação na fronteira”, sustentou, salientando que os aparelhos irão sobrevoar as fronteiras com a Polónia, com os países bálticos, com todos os Estados membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e ainda com a Ucrânia.
“Foi o que combinámos com os russos. Connosco, piadas não valem a pena. A situação é séria. Não sabemos o que eles querem”, acrescentou.
Esta quinta-feira também, o Ministério da Defesa russo divulgou imagens do voo de dois bombardeiros Tu-160, embora tenha especificado que a referida patrulha não era dirigida “contra países terceiros”.
“A duração do voo foi de quatro horas e 36 minutos. Neste período, os bombardeiros percorreram mais de 3.000 quilómetros”, indicou-se na nota militar.
Quarta-feira, outros dois bombardeiros Tu-22M3 também sobrevoaram o território bielorrusso, após o que Minsk informou que as patrulhas passariam a ser regulares “face à situação criada tanto no ar como em terra”.
Moscovo, que estendeu esta semana a presença de militares russos em território bielorrusso por 25 anos, apoia Minsk na crise migratória com a Polónia, que conta, por sua vez, com a ajuda europeia.
Lukashenko também ordenou ao Ministério da Defesa bielorrusso e às guardas fronteiriças que garantam “o controlo sobre o movimento das tropas da NATO e das polacas“.
“Vê-se que já são 15 mil militares, tanques, veículos blindados, helicópteros que voam ao lado de aviões. Foram enviados para a fronteira e, mais ainda, sem avisar ninguém, embora sejam obrigados a fazê-lo”, denunciou. Lukashenko assegurou ainda que a Bielorrússia tem de ter “planos de contra-ataque”.
“Para que não façam uma pequena guerra na fronteira e não estejamos preparados para isso”, acrescentou.
Diante das iminentes sanções europeias, o Presidente bielorrusso ameaçou Bruxelas com o encerramento do gasoduto do gás russo destinado à Europa que passa pelo país e com o bloqueio ao trânsito comercial.
Bielorrússia ameaça cortar o gás à Europa
Lukashenko ameaçou ainda cortar o abastecimento de gás e outros bens à União Europeia, caso esta lhe imponha mais sanções devido à crise de migrantes com a Polónia, escreve o Expresso.
Depois de se reunir com Joe Biden, Ursula von der Leyen anunciou mais sanções contra as companhias aéreas que estão a levar os migrantes para a Bielorrússia. A UE quer também estabelecer acordos com os países de origem dos migrantes para facilitar o seu regresso a casa.
Em resposta, Lukashenko disse que a Bielorrússia iria reagir a quaisquer sanções “inaceitáveis”.
“Estamos a aquecer a Europa, e eles estão a ameaçar fechar a fronteira. E se lhes cortarmos o gás? Recomendo que os líderes da Polónia, Lituânia e outras pessoas ‘sem cabeça’ que pensem antes de falar. Não nos vamos conter de forma alguma na defesa da nossa soberania e independência”, disse o Presidente bielorrusso em declarações à agência estatal Belta.
Segundo analistas citados pelos Financial Times, cerca de 40% do gás europeu vem da Rússia, e cerca de um quinto deste passou através da Bielorrússia em 2020.
https://zap.aeiou.pt/bielorrussia-cortar-gas-natural-europa-444114