Publicação: 19/04/2013 08:40
Atualização: 19/04/2013 09:36
O abalo de 3,7 graus na Escala Richter, registrado em Montes Claros
na manhã de quinta-feira, foi mais um evento da sequência de tremores
que vêm ocorrendo na cidade nos últimos três anos. Após o mais forte
deles – de 4,2 de magnitude , ocorrido em 19 de maio de 2012, no início
de junho passado, foram instaladas na cidade nove estações sismográficas
da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP),
que passaram a monitorar os fenômenos, em parceria com a Universidade
Estadual de Montes Claros (Unimontes). Em março último, foi divulgado
relatório dos estudos, que confirmaram que a causa dos sismos é uma
falha geológica de 3 quilômetros de extensão, situada a cerca 1,5 a 2
quilômetros de profundidade.
Conforme registros dos aparelhos da
UnB e da USP, entre maio e dezembro de 2012, ocorreram 176 “eventos” no
município, dos quais a metade “fenômenos naturais” (tremores) e outra
metade detonações realizadas por pedreiras. O sismo da última
quinta-feira não provocou danos, a não ser rachaduras em paredes de
algumas casas. Mesmo assim, provocou muito susto na população. O Corpo
de Bombeiros recebeu cerca de 200 ligações, quase todas de moradores que
ficaram muitos assustados. As aulas em algumas escolas também foram
prejudicadas. De acordo com a UNB, o abalo teve como epicentro a Vila
Atlântida (próxima da falha geológica, apontada como causa dos
fenômenos) e foi sentido em todas regiões da cidade e em municípios
vizinhos. O fenômeno também teve grande repercussão nas redes sociais.
Uma questão foi levantada pelos moradores:
porquê os tremores se intensificaram nos últimos anos? Como resposta, o
chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, Lucas
Vieira Barros, explica que os abalos são cíclicos, ou seja: podem
ocorrer em determinada região por um determinado período e depois e são
interrompidos. “Os sismos podem ocorrer em uma região durante três,
quatro, cinco anos ou mais”, explica o especialista, lembrando que em
Porto dos Gaúchos (Mato Grosso) teve uma sequência de tremores durante
cerca de 10 anos, entre os anos 1990 e 2000.
“Normalmente, há
uma sismicidade que dura um certo período. Aí, começa novamente um lento
e gradual acúmulo de energia no interior da terra, que pode demorar 10,
20, 50, 100 e até 1 mil anos para ser liberada novamente e provocar
outros tremores”, afirmou Vieira Barros. O ambientalista José Ponciano
Neto, de Montes Claros, disse acreditar que os tremores registrados na
cidade estejam relacionados com intervenções no subsolo, como a abertura
de poços tubulares e perfurações para pesquisas sobre ocorrência de gás
natural. “Mas, não existe relação entre os fenômenos e as
interferências do homem na natureza”, assegurou o chefe do Observatório
da UnB.
Vieira Barros também afirmou em situações que são
registrados pequenos tremores em sequência, podem ocorrer um abalo de
maior intensidade. No entanto, pelas características do Brasil e da
falha geológica de Montes Claros, praticamente está descartada a
possibilidade de ocorrência de um tremor com intensidade acima de 5.0
graus na escala Richter, capaz de provocar grandes prejuízos.
O
chefe do Observatório Sismológico da UnB ressaltou que o tremor
registrado ontem em Montes Claros, devido ao horário em que aconteceu –
“em que muita gente ainda estava acordando” – acabou assustando mais as
pessoas, apesar de não provocar danos.
O coordenador municipal de
Defesa Civil de Montes Claros, Mattson Malveira, informou que fez
vistorias em casas em diversos bairros. Porém, a Defesa Civil só
interditou um quarto de uma casa no bairro Bela Vista, próximo da Vila
Atlântida. “Na verdade, a casa já tinha sido atingida por outros
tremores anteriormente”, explicou Malveira.
O autônomo Renato
Barbosa, de 30 anos, ficou muito assustado e chamou os bombeiros para
fazer uma vistoria em sua casa, que apresentaram trincas em uma parede.
Os bombeiros constaram que as trincas eram antigas. “Mas, com o tremor
de hoje (ontem), houve um deslocamento no gesso do teto da minha casa.
Realmente, o susto que tivemos foi muito grande”, contou Renato, no
momento do abalo de ontem, assistia televisão.
O estudante Tiago
da Silva, de 8 anos, é um dos 500 que estavam no local. "Meus colegas
gritava, choravam e saíriam correndo. Senti muito medo, parecia que a
escola ia cair", diz o menino.
No Centro Municipal de Educação
Infantil (Cemei) Nossa Senhora da Conceição, no bairro Santos Reis,
muitas crianças não participaram das atividades, ontem de manhã, por
causa do abalo sismo. “Estávamos fazendo a oração diária no momento do
tremor. Uma telha caiu e quase atingiu uma criança”, relatou Fabrícia de
Oliveira, professora da entidade, que atende 160 crianças. Segundo
Fabrícia, assustados, muitos pais foram buscar os filhos logo após o
abalo sísmico.
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/04/19/interna_gerais,373524/tremores-em-montes-claros-devem-continuar-mas-serao-menores-de-5-0-na-escala-richter.shtml