A Coreia do Norte aumentou sua retórica belicista nesta quinta-feira,
ao advertir que seu exército conta com a autorização final para lançar
um ataque contra os Estados Unidos utilizando eventualmente armas
nucleares.
A Rússia, por sua vez,considerou inaceitável que a Coreia do Norte
não respeite as resoluções da ONU (sobre a não-proliferação nuclear) e
afirmou que as iniciativas de Pyongyang no âmbito nuclear bloqueiam de
fato uma retomada das negociações multilaterais.
"A atitude da Coreia do Norte complica, ou inclusive bloqueia, as
perspectivas de retomar as negociações entre os seis", declarou o
porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Rússia, Alexander
Lukashevich.
Por sua vez, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou-se
nesta quinta-feira "profundamente preocupado" pela escalada da retórica
da Coreia do Norte, durante uma coletiva de imprensa em Mônaco.
O Estado-Maior do Exército norte-coreano disse que informava
oficialmente Washington que os americanos serão esmagados utilizando
"meios nucleares", segundo um comunicado citado pela agência oficial
norte-coreana, KCNA.
"A operação sem compaixão" das forças norte-coreanas "foi
definitivamente examinada e ratificada", disse o exército, acrescentando
que uma guerra na península coreana pode explodir "hoje ou amanhã".
"Os Estados Unidos devem refletir sobre a grave situação atual",
acrescentou, considerando que os voos de bombardeiros B-52 e B-2
americanos sobre a Coreia do Sul eram a origem deste agravamento da
crise.
Apesar do disparo bem-sucedido de um míssil em dezembro, os
especialistas não consideram que neste momento a Coreia do Norte tenha
capacidade para atacar diretamente o território americano. No entanto,
Pyongyang ameaçou atacar Guam e Havaí, e está em condições de atingir a
Coreia do Sul e o Japão, onde encontram-se 28.500 e 50.000 soldados
americanos, respectivamente.
A agência sul-coreana Yonhap e o jornal japonês Asahi Shimbun
indicaram que a Coreia do Norte parec ter instalado em sua costa
oriental uma bateria de mísseis Musudan de médio alcance (3.000 km).
Segundo fontes de inteligência militar citadas pela Yonhap, a Coreia
do Norte pode lançar um míssil no dia 15 de abril, aniversário do
nascimento do fundador do regime comunista, Kim Il-Sung, que faleceu em
1994.
"Vemos hoje uma nova declaração da Coreia do Norte que emite
novamente uma ameaça que não é construtiva", declarou a porta-voz do
Conselho Nacional de Segurança, Caitlin Hayden, referindo-se a uma
declaração "que isola um pouco mais a Coreia do Norte do resto da
comunidade internacional".
"A Coreia do Norte deve deter suas ameaças e tentar respeitar suas obrigações internacionais", acrescentou.
Pouco antes do anúncio do exército norte-coreano, o Pentágono
informou na quarta-feira sobre a mobilização de uma bateria antimísseis
THAAD sobre a ilha de Guam, de onde decolam os B-52 que sobrevoaram a
Coreia do Sul.
Este sistema de defesa se soma à mobilização de dois destroieres Aegis antimísseis no Pacífico ocidental.
Para o secretário de Defesa, Chuck Hagel, que se reuniu com seu
colega chinês Chang Wanquan, as provocações de Pyongyang representam um
perigo claro e real.
A multiplicação das ameaças inquieta cada vez mais a comunidade internacional.
A Rússia está muito preocupada pela situação "explosiva perto de
(suas) fronteiras no Extremo Oriente", declarou o vice-ministro russo
das Relações Exteriores, Igor Morgulov.
A China, principal aliada da Coreia do Norte, convocou a calma e a moderação a todas as partes envolvidas no conflito.
Os apelos feitos a Pequim para que tente apaziguar o regime de Kim
Jong-Un se multiplicaram. A França desejou que a China, que tem poder
sobre a Coreia do Norte, intervenha na crise.
Em Berlim, um porta-voz do ministério alemão das Relações Exteriores,
Andreas Peshke, também pediu à China que atue com um papel
tranquilizador e os Estados Unidos enviarão no fim do mês seu
funcionário de mais alta patente, o general Martin Dempsey, a Pequim.
A União Europeia pediu a Pyongyang nesta quinta-feira que não
alimente as tensões e que se comprometa a favor da paz e da segurança,
renunciando à reativação de seu reator nuclear na central de Yongbyon.
Por sua vez, Ban Ki-moon disse estar decepcionado e preocupado pelas
restrições que afetam os trabalhadores sul-coreanos que trabalham em
Kaesong e acrescentou que espera "sinceramente que a medida fique sem
efeito o quanto antes".
A Coreia do Norte bloqueou nesta quinta-feira o acesso de centenas de
empregados sul-coreanos ao complexo industrial intercoreano de Kaesong
pelo segundo dia consecutivo, indicou um jornalista da AFP perto da
fronteira da Coreia do Sul com o Norte.
Pyongyang inclusive ameaçou retirar seus 53.000 funcionários de
Kaesong "se as marionetes sul-coreanas e os meios de comunicação
conservadores continuarem nos denegrindo", segundo o Comitê para a
Reunificação Pacífica da Coreia, uma agência governamental encarregada
da propaganda.
O complexo de Kaesong, preciosa fonte de renda para a Coreia do
Norte, foi inaugurado em 2004 com a vontade simbólica de estabelecer uma
cooperação entre as duas Coreias.
Para Yun Duk-Min, professor da academia sul-coreana de diplomacia, a
maior incógnita é a atitude do jovem líder norte-coreano Kim Jong-Un,
que, com menos de 30 anos, sucedeu seu pai Kim Jong-Il após sua morte,
em dezembro de 2011.
"O problema é saber se Kim, que ainda é jovem e pouco experiente, é
capaz de controlar a escalada. Isso vai parar? É a pergunta que
preocupa", opinaYun Duk-Min.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/coreia-do-norte-ameaca-eua-com-ataques-nucleares,7fb9b7fbb44dd310VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html