Região recebeu um 'vórtice ciclônico de alto nível', diz Incaper.
Tempestade de quinta fez 2014 ter 4º outubro mais chuvoso em 90 anos.
O capixaba deve se preparar para a possibilidade enfrentar, nos próximos
meses, tradicionalmente de chuva mais intensa, dias de caos como o
registrado nesta quinta-feira (31), na Grande Vitória, quando uma
tempestade alagou bairros inteiros, principalmente na Serra. Nesse
município, a chuva torrencial atingiu até 385,24 milímetros (o
equivalente e 385 litros de água em um metro quadrado).
Em decorrência da chuva desta quinta-feira (30), de acordo com a Defesa Civil Estadual,
uma pessoa morreu; duas
ficaram feridas; e
605 pessoas, sem casa devido aos alagamentos,
desabamentos ou por estarem em áreas de risco. Os maiores transtornos
foram registrados nos municípios de Vitória e Serra e, no interior, em
Aracruz,
Fundão, São Mateus e Linhares. Os maiores índices pluviométricos
acumulados em 24 horas foram registrados em Novo Horizonte, no município
da Serra, com 385, 24 mm, e
304,76 mm em Guaraná, no município de Aracruz. Na Serra, segundo o Incaper,
em seis horas, choveu o previsto para dois meses.
O verão – tradicionalmente chuvoso – nem chegou, mas a tempestade da
quinta-feira fez 2014 registrar o quarto outubro mais chuvoso dos
últimos 90 anos. Em sete horas, o nível da chuva superou a soma da média
histórica dos meses de outubro e novembro, de 126 milímetros e de 219
milímetros, respectivamente.
O fenômeno extremo foi provocado por um vórtice ciclônico de alto
nível, que interagiu com vento próximo à superfície, e que nesta
sexta-feira (31), segundo o meteorologista do Instituto Capixaba de
Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Bruce Pontes,
perdeu força e deslocou-se para o mar.
Pontes disse que os modelos aplicados na previsão meteorológica
mostravam que a chuva forte cairia em cidades do Norte, mas não na
Grande Vitória. “Esperava-se que acontecesse de Aracruz até a divisa do
Estado. Para a Grande Vitória previam-se apenas pancadas de chuva”, diz
ele.
Ele diz que não há como fazer previsões de longo prazo, mas, perguntado
sobre o que se pode esperar para os próximos meses, afirma: “Em
qualquer parte do mundo, em períodos chuvosos pode-se ter fenômenos mais
extremos”.
Fora de casa
A chuva da quinta-feira acabou fazendo o número de desalojados e
desabrigados no Estado chegar a 605 pessoas, somando-se casos
registrados desde o dia 26 de outubro.
Foi na Serra, onde mais choveu, que um homem morreu, vítima do
desabamento de um muro. Já em Vitória, uma mulher foi soterrada após sua
casa desabar na Volta do Rabaioli. Seu resgate durou seis horas.
Nesta sexta-feira, um dia após a tempestade que causou caos no trânsito
e deixou vias totalmente alagadas em Vitória, Serra e Vila Velha,
principalmente, prefeitos contabilizavam prejuízos e prestavam contas do
que fizeram para preparar as cidades.
Mas, de maneira geral, Rodney Miranda, de Vila Velha; Luciano Rezende,
de Vitória; Juninho, de Cariacica, e Audifax Barcelos, da Serra,
responsabilizaram o grande volume de chuvas pelos estragos.
Desde sempre
Professor da Ufes e doutor em Engenharia de Recursos Hídricos, Antônio
Sérgio Ferreira Mendonça admite que chuvas fortes e longos períodos
de estiagem sempre existiram, mas lembra da necessidade de as cidades
definirem planos diretores de drenagem e controlarem a ocupação do solo,
além de fazerem a manutenção de galerias.
Ele ressalta o fato de hoje haver muita impermeabilização do solo – com
asfalto, principalmente - e diz que áreas de inundação de córregos e
rios foram ocupadas de forma desordenada.
De tarrafa na enchente
Depois que a Rodovia Audifax Barcelos, na Serra, foi tomada pela água
das chuvas, vários moradores aproveitaram para tentar pescar peixes na
lagoa que se formou no local. Bernardo Coutinho
De tarrafa na enchente na Serra - 31/11/2014 (Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)
Carro submerso
Um
motorista dirigiu sobre o canteiro de obras da Avenida Leitão da Silva para tentar fugir da enchente e acabou caindo com o carro na nova galeria pluvial. Marcelo Prest
Carro submerso na obra da avenida Leitão da Silva, em Vitória - 31/11/2014 (Foto: Marcelo Prest/A Gazeta)
Expulsos de casa
No bairro Guaraciaba, na Serra, alagado após a chuva da noite de
quinta-feira, moradores saíram de casa e tentavam salvar os animais. Nas
residências, o nível da água chegou a 1,5 metro. O acesso era possível
somente com a ajuda de um barco. Bernardo Coutinho
Expulsos de casa no bairro Guaraciaba, na Serra - 31/11/2014 (Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)
Arrancada pela raiz
Uma
árvore caiu na Rua Constante Sodré, em Santa Lúcia, Vitória, em consequência da forte chuva da noite anterior. Bernardo Coutinho
Árvore é arrancada pela raiz em Vitória - 31/11/2014 (Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)
Em cima do muro
Para não colocar o pé na água do alagamento, na Avenida Norte-Sul,
próximo a Laranjeiras, teve pedestre que encontrou uma maneira criativa,
porém perigosa, para se proteger: andou por cima do muro. Bernardo
Coutinho
Morador em cima do muro em Laranjeiras - 30/11/2014 (Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)
* Com colaboração de Cláudia Feliz, do jornal A Gazeta.
Fonte: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/11/em-sete-horas-grande-vitoria-teve-chuva-esperada-para-dois-meses.html