Para cientistas, recentes tremores registrados no sudoeste do país
seriam sinal de movimentação de placas tectônicas causada por falha
geológica; 'efeito dominó' pode causar tremor de grande magnitude.
Cinco anos após o terremoto de 9.0 graus que provocou um tsunami e deixou mais de 15 mil mortos no nordeste do Japão,
uma série de fortes tremores registrada desde o último dia 14 no
sudoeste do país reacendeu temores de que uma tragédia como a de 2011
possa se repetir em breve.
Gracete Suzuki montou seu primeiro kit terremoto depois de 23 anos morando no Japão (Foto: Arquivo pessoal/BBC)
Os
dois abalos sísmicos mais fortes da semana passada, de 6,5 e 7,3 graus,
deixaram até agora 42 mortos na província de Kumamoto. Além disso,
perto de 250 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas por causa
do risco de desabamento em consequência da série de réplicas.
Mais
de 600 tremores foram registrados até agora na região e a terra
continua se mexendo. Esses números são impressionantes, pois representam
quase metade dos terremotos registrados anualmente no país.
O Japão está localizado sobre três placas tectônicas: Eurasiana, das Filipinas e do Pacífico. Cada uma delas foi formada a partir de "colagens" de placas mais antigas e, por isso, sua formação é cheia de irregularidades, chamadas de falhas.
O terremoto ocorre justamente quando essas falhas se "acomodam".
O
medo, segundo tem divulgado a mídia japonesa, é de que esses fortes
tremores na região sudoeste desencadeiem o assentamento de outras falhas
e vire um efeito dominó, subindo pelo arquipélago.
"Em ambas
extremidades da falha é possível que haja deformação por causa da sua
movimentação inicial concentrada, o que acaba incentivando outras falhas
próximas a se movimentarem", explicou à BBC Brasil o pesquisador e
professor de sismologia Naoshi Hirata, do Instituto de Pesquisas de
Terremotos da Universidade de Tóquio.
Para alguns cientistas, os
recentes terremotos em Kumamoto podem estar ligados a uma falha
geológica que se prolonga através do arquipélago.
Um relatório
assinado por especialistas da Universidade de Kyoto e divulgado pela
imprensa diz que que fortes terremotos poderiam ocorrer em torno de uma
grande falha que se estende do sudoeste do país até próximo à Tóquio.
Os
especialistas acreditam que os novos tremores sejam um sinal dessa
movimentação. Os últimos tremores foram registrados em uma área que
abrange três províncias ao norte de Kumamoto e partes da região mais
central do país.
Porém, para Hirata, esses abalos sísmicos
intensos no sudoeste do Japão não devem desencadear os temidos e fortes
terremotos esperados para as regiões mais próximas da capital japonesa.
"São áreas muito distantes de Kumamoto", lembra.
Mesmo assim, para os pesquisadores, estes fenômenos naturais de grande proporção não estão longe de acontecer.
Segundo
estimativas da Universidade de Tóquio, existe 98% de possibilidade de
que nos próximos 30 anos aconteça o que eles chamam de Grande Terremoto
de Kanto, em uma área onde se encontra a capital japonesa.
O
último terremoto forte nesta região foi registrado em 1923 e teve uma
magnitude de 7,8 graus. Na época, mais de 140 mil pessoas morreram.
Já os cálculos da Agência de Meteorologia do Japão é de que essa probabilidade seja de 70%.
Alerta
Por
causa do grande destaque na mídia à possibilidade de um aumento nas
fortes atividades sísmicas no país, o Consulado do Brasil em Tóquio
divulgou um alerta para os brasileiros que vivem no país – hoje são
cerca de 200 mil brasileiros.
"Tendo em vista que os dois fortes
terremotos da semana passada podem representar o início de outros
tremores, tomamos a iniciativa de avisar os brasileiros para que eles
estejam preparados, tenham mais informação e possam localizar facilmente
os abrigos", explicou Marco Farani, cônsul-geral do Brasil em Tóquio.
Para
o diplomata, a divulgação do alerta é uma obrigação do consulado.
"Nosso objetivo é fazer com que os brasileiros estejam alertas e que
tomem as providências para se proteger", justificou.
Arnaldo
Caiche D'Oliveira, cônsul-geral do Brasil em Nagoia, região que
concentra a maior parte dos brasileiros no Japão, também tem se
preocupado em informar os brasileiros e garantiu que existe um plano bem detalhado de ação e assistência em caso de desastres de grandes proporções.
Para
que tudo ocorra como o planejado, os funcionários dos três consulados
brasileiros existentes no Japão passam por treinamentos regulares. "O
objetivo de aperfeiçoar a capacidade de resposta do consulado a um
desastre", explicou o cônsul.
Kit terremoto
Rodrigo Sumikawa,
37, mora em Hamamatsu, uma das cidades japonesas com maior número de
brasileiros e que está na lista das que serão mais afetadas em caso de
um grande terremoto, e que inclusive pode ser atingida por um tsunami.
Rodrigo Sumikawa tem uma mochila preparada para uma emergência (Foto: Arquivo pessoal/BBC)
Por
causa dos riscos, ele tem uma mochila com roupa, comida, água e artigos
de primeira necessidade pronta para o caso de ter de sair correndo de
casa. "Também participo dos treinamentos oferecidos na fábrica e fiz um
curso de primeiros socorros", contou.
Medo ele confessa que tem. "Mas a gente não fica pensando muito nisso."
Já
Gracete Suzuki, 62, diz já estar acostumada com os terremotos no Japão.
"Mas agora, com tanta notícia sobre esses fortes tremores que estão
para acontecer, comecei a ficar com medo", contou a brasileira.
Por
isso, depois de 23 anos morando no Japão, ela contou que finalmente
montou um kit terremoto para cada membro da família. "Bateu uma
insegurança e achei melhor me prevenir desta vez."
País preparado
Apesar das previsões nada otimistas, o professor Hirata lembra que o Japão é um país bastante preparado para fortes terremotos.
As
normas de segurança para construções melhoraram depois de 1995, ano em
que um forte tremor em Kobe matou mais de 6.400 pessoas, muitas das
quais morreram por causa do desabamento de edifícios.
"O código
de construção atual é resultado de muitas experiências de grandes
desastres sísmicos do passado. Casas e edifícios construídos depois de
1981 entram no chamado novo código de construção, o que garante uma
certa segurança", explicou o pesquisador japonês.
No entanto, ele
lembra que ainda há cerca de 20% de construções que não são nem um
pouco resistentes a fortes tremores ou que possuem estruturas que podem
causar facilmente incêndios.
Fonte: http://a-nova-realidade.blogspot.pt/