A humanidade tem alcançado algum sucesso em aliviar a fome, a doença e a guerra (pode não parecer assim, mas é verdade). Agora, o Homo sapiens está à beira de uma atualização – assim por dizer. Ao nos tornarmos cada vez mais hábeis na implementação da inteligência artificial, ‘big data‘ e algoritmos para fazer tudo, desde melhorar o tráfego até o diagnóstico de câncer, nos transformaremos numa nova raça de super-humanos, diz o historiador e escritor best-seller Yuval Harari em seu novo livro: Homo Deus: A Brief History of Tomorrow (Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã).
Isto é ótimo, exceto que podermos também nos tornarmos tão dependentes destas ferramentas que nossa espécie se tornará irrelevante – nosso valor determinado somente pelos dados que geramos. O site WIRED falou com Harari sobre esta futura vida na Matrix, pouco antes dele ir ao seu retiro anual para meditação de 45 dias livre de tecnologia.
WIRED: Em seu livro, você prediz o surgimento de duas religiões completamente novas. Quais são elas?
HARARI: Tecno-humanismo almeja amplificar o poder dos humanos, criando ciborgues e conectando os humanos aos computadores, mas isto ainda vê os interesses e desejos humanos como sendo a mais alta autoridade no Universo.
Dataismo é um novo sistema ético que diz, sim, humanos eram especiais e importantes, porque até agora eles eram os sistemas de processamento de dados mais sofisticados do Universo, mas este não é mais o caso. O ponto da virada é quando você tem um algoritmo externo que compreende você – seus sentimentos, emoções, escolhas, desejos – melhor do que você mesmo os entende. Esse é o ponto quando há uma mudança que torna os humanos redundantes.
Como assim?
Tome por exemplo o Google Maps ou o Waze. Por um lado eles amplificam a habilidade humana – você é capaz de alcançar seu destino mais rapidamente e com mais facilidade. Mas ao mesmo tempo, você está mudando a autoridade para o algoritmo, e perdendo sua habilidade de encontrar seu próprio caminho.
Isto é ótimo, exceto que podermos também nos tornarmos tão dependentes destas ferramentas que nossa espécie se tornará irrelevante – nosso valor determinado somente pelos dados que geramos. O site WIRED falou com Harari sobre esta futura vida na Matrix, pouco antes dele ir ao seu retiro anual para meditação de 45 dias livre de tecnologia.
Yuval Harari (Foto: Levon Biss)
WIRED: Em seu livro, você prediz o surgimento de duas religiões completamente novas. Quais são elas?
HARARI: Tecno-humanismo almeja amplificar o poder dos humanos, criando ciborgues e conectando os humanos aos computadores, mas isto ainda vê os interesses e desejos humanos como sendo a mais alta autoridade no Universo.
Dataismo é um novo sistema ético que diz, sim, humanos eram especiais e importantes, porque até agora eles eram os sistemas de processamento de dados mais sofisticados do Universo, mas este não é mais o caso. O ponto da virada é quando você tem um algoritmo externo que compreende você – seus sentimentos, emoções, escolhas, desejos – melhor do que você mesmo os entende. Esse é o ponto quando há uma mudança que torna os humanos redundantes.
Como assim?
Tome por exemplo o Google Maps ou o Waze. Por um lado eles amplificam a habilidade humana – você é capaz de alcançar seu destino mais rapidamente e com mais facilidade. Mas ao mesmo tempo, você está mudando a autoridade para o algoritmo, e perdendo sua habilidade de encontrar seu próprio caminho.
O que isto significa para o Homo sapiens?
Tornamo-nos menos importantes, talvez irrelevantes. Na era humanista, o valor de uma experiência veio de dentro de você mesmo. Na era Dataista, o significado é gerado pelo sistema externo de processamento de dados. Você vai a um restaurante japonês e pede um prato maravilhoso, e a coisa a ser feita é tirar uma foto com seu celular, colocá-la no Facebook, e ver quantas curtidas consegue. Se você não compartilha suas experiências, elas não se tornam parte do sistema de processamento de dados, e elas não têm significado.
A mudança para o Dataismo importa para a política?
No Século XX, a politica era o campo de batalha entre as grandes visões sobre o futuro da humanidade. As visões eram baseadas na Revolução Industrial e a grande questão era o que fazer com novas tecnologias como a eletricidade, os trens e o rádio. Seja lá o que for que você diz sobre personagens como Lenin e Hitler, você não pode acusá-los de falta de visão. Hoje, ninguém na política tem qualquer tipo de visão; a tecnologia está se movendo rápida demais e o sistema político é incapaz de fazer sentido disso.
Quem pode fazer sentido disso?
O único lugar que você escuta visões amplas sobre o futuro da humanidade é no Vale do Silício, de Elon Musk, Mark Zuckerberg. Pouquíssimas pessoas têm visões competitivas. O sistema política não está fazendo seu trabalho.
Então, as empresa tecnológicas se tornam os novos imperadores, até mesmo deuses?
Quando você fala sobre Deus e religião, no final é uma questão de autoridade. Qual é a mais alta fonte de autoridade que você procura quando tem um problema na sua vida? Mil anos atrás você procuraria a igreja. Hoje, esperamos que os algoritmos nos forneçam a resposta – com quem ter um encontro, onde viver, como lidar com um problema econômico. Assim, mais e mais autoridade está indo para estas corporações.
Temos a opção de sair disso?
A resposta mais simples é não. Será muito difícil puxar a tomada, e isto tem a ver com o cuidado com a saúde, que cada vez mais depende de sensores conectados à Internet. As pessoas estão dispostas a desistir de suas privacidades em troca dos serviços médicos, os quais dizem a você o primeiro dia que as células cancerígenas começam a se espalhar pelo seu corpo. Assim, poderemos alcançar um ponto quando será impossível desconectar.
Sobre o que podermos ser esperançosos?
Há muitas coisas para sermos esperançosos. Em 20 a 30 anos centenas de milhões de pessoas que não têm acesso aos cuidados de saúde terão acesso aos médicos de IA (Inteligência Artificial) em seus smartphones, oferecendo um melhor serviço que qualquer um recebe agora. Carros sem motoristas não irão eliminar os acidentes, mas eles irão reduzi-los drasticamente.
Puxa… então não estamos condenados?
A humanidade provou sua habilidade de se elevar para encarar os desafios apresentados pelas novas tecnologias – nas décadas de 50 e 60, muitas pessoas esperavam que a Guerra Fria terminasse com um holocausto nuclear. Isso não aconteceu. Após milhares de anos nos quais a guerra parecia ser uma parte inevitável da natureza humana, mudamos a forma com que as políticas internacionais funcionavam. Espero que também sejamos capazes de encararmos os desafios das tecnologias como a IA e a engenharia genética, mas não temos espaço para o erro.
Fonte: http://ovnihoje.com/2017/02/24/humanidade-esta-prestes-se-tornar-irrelevante/
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