Parte dos materiais de plásticos usados na luta contra a covid-19, estimados em algo como 25,900 toneladas, o equivalente a mais de dois mil autocarros de dois andares, foram parar aos oceanos, apontam os cientistas. A má gestão destes resíduos, sobretudo equipamento de proteção individual (tal como máscaras e luvas), juntamente com a incapacidade de os países os processarem devidamente, fez com que tivessem este destino.
Desde o início da pandemia, estima-se que cerca de 8.4 milhões de toneladas de resíduos de plástico tenham sido geradas em 193 países, de acordo com um relatório publicado esta segunda-feira.
A pandemia da covid-19 levou a um aumento na procura por plásticos de uso único, os quais intensificam a pressão sobre o problema do consumo de plástico, já fora de controlo”, explicaram Yimming Peng e Peipe Wu, da Universidade de Nanjing e autores do estudo, publicado no jornal online PNAS. “A libertação de plásticos pode ser transportada por longas distâncias no oceano, encontrar a vida selvagem marinha e, potencialmente, levar a lesões ou até mortes”, explica a dupla.
Um outro estudo, publicado em março, apresentou o primeiro caso de um peixe encurralado numa luva médica, um fenómeno retratado durante a limpeza de um canal em Leiden, nos Países Baixos. No Brasil, uma máscara PFF-2 foi encontrada no estomago de um pinguim Magellanic. De acordo com as piores previsões dos cientistas, no final do século todos os plásticos associados à pandemia acabarão nos oceanos ou nas praias.
O estudo em causa aponta também que 46% do plástico em causa teve origem na Ásia, talvez devido ao maior uso de equipamentos de proteção individual por parte daquela população. Na tabela, segue-se a Europa (24%) e a América do Norte e do Sul (22%).
Os investigadores dizem que a partir da investigação é possível apontar que 87.4% dos resíduos provinha de hospitais, e não se uso individual – neste caso, os plásticos correspondem a apenas 7.6% do total. As embalagens constituem 4.7% e os testes de despiste 0.3%. “A maioria do plástico é proveniente de desperdícios resultante da atividade hospitalar, o qual anula a contribuição do equipamento de proteção individual e do material da embalagem. Isto constitui um problema duradouro para o ambiente oceânico, já que os resíduos ficam sobretudo acumulados nas praias e noutros sedimentos costeiros.”
A investigação sugere ainda que as milhares de toneladas de máscaras, luvas, testes e viseiras chegaram aos oceanos a partir de 369 grandes rios. Entre os principais canais de transporte de resíduos está o rio Shatt al-Arab, no sudeste do Iraque, o rio Indus, no oeste no Tibete, e o rio Yantze, na China. Entre os cursos de água europeus, destaca-se o Danúbio.
Para a totalidade de resíduos de plástico no mar, 73% teve origem em rios asiáticos, 11% em rios europeus, com os estantes continentes a representarem apenas contribuições minoritárias. “Estas conclusões destacam os rios mais complicados, assim como outros pontos que merecem especial atenção no que respeita à gestão dos resíduos de plástico” e onde é preciso intervir, avançam os autores.
“Descobrimos o impacto a longo prazo destes resíduos nos oceanos. No final do século, o modelo que desenhamos sugere que quase todo o plástico associado à pandemia vai terminar no leito do mar (28.8%) ou nas praias (70.5%), explicam os especialistas. Os autores afirmam ainda que as conclusões mostram ainda a necessidade de uma melhor gestão do lixo hospitalar nos epicentros da pandemia, sobretudo nos países mais desenvolvidos.
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