No ano passado, o Cern (European Center for
Nuclear Research, ou Centro Europeu de Pesquisas Nucleares), disse a
mesma coisa – portanto, acho que tudo isso é uma boa notícia para quem
fica nervoso facilmente. Com que frequência vemos duas instituições
científicas top de linha como essas nos garantindo que está tudo bem?
Por outro lado, é meio triste, se você estava ansioso por tirar umas
férias das prestações do imóvel para financiar uma última festança. As
declarações do Cern tiveram a intenção de aliviar temores de que um
buraco negro sairia de seu novo Grande Colisor de Hádrons e engoliria a
Terra.
O pronunciamento da Administração Nacional Aeronáutica e Espacial, na
forma de vários posts em sites da internet e um vídeo postado no
YouTube, foi uma resposta a temores de que o mundo fosse acabar no dia
21 de dezembro de 2012, quando um ciclo de 5.125 anos conhecido como
Grande Contagem no calendário maia teoricamente chegaria a um fim.
O burburinho em torno do fim dos dias atingiu o auge com o lançamento
do novo filme 2012, dirigido por Roland Emmerich, que já trouxe
desgraças para a Terra anteriormente, com alienígenas e geleiras, em
Independence Day e O Dia Depois de Amanhã.
No filme, o alinhamento entre o Sol e o centro da galáxia, no dia 21
de dezembro de 2012, faz com que o astro fique ensandecido e lance na
superfície da Terra inúmeras partículas subatômicas ambíguas conhecidas
como neutrinos. De alguma forma, os neutrinos se transformam em outras
partículas e aquecem o centro da Terra. A crosta terrestre perde suas
amarras e começa a se enfraquecer e deslizar por aí. Los Angeles cai no
oceano; Yellowstone explode, causando uma chuva de cinzas no continente.
Ondas gigantes varrem o Himalaia, onde governos do planeta tinham
construído em segredo uma frota de arcas, nas quais 400 mil pessoas
seletas poderiam se abrigar das águas.
Porém, essa é apenas uma versão do apocalipse. Em outras variações,
um planeta chamado Nibiru colide com o nosso ou o campo magnético da
Terra enlouquece.
Existem centenas de livros dedicados a 2012, e milhões de sites na
internet, dependendo de que combinação de "2012" e "fim do mundo" você
digite no Google. Segundo astrônomos, tudo isso é besteira. "Grande
parte do que se alega que irá ocorrer em 2012 está baseada em desejos,
grandes tolices pseudocientíficas, ignorância de astronomia e um alto
nível de paranoia", afirmou Ed Krupp, diretor do Griffith Observatory,
em Los Angeles, e especialista em astronomia antiga, em um artigo
publicado na edição de novembro da Sky & Telescope.
Pessoalmente, adoro histórias sobre o fim do mundo desde que comecei a
consumir ficção científica, quando era uma criança sem afeto. Fazer o
público se borrar nas calças é o grande lance, desde que Orson Welles
transmitiu a "Guerra dos Mundos", uma notícia falsa sobre uma invasão de
marcianos em Nova Jersey, em 1938.
No entanto, essa tendência tem ido longe demais, sugeriu David
Morrison astrônomo do Ames Research Center da NASA, em Moffett Field,
Califórnia. Ele é autor do vídeo do YouTube e um dos principais pontos
de contato da agência sobre a questão das profecias maias prevendo o fim
dos dias. "Fico com raiva de ver como as pessoas estão sendo
manipuladas e aterrorizadas para alguém ganhar dinheiro", disse
Morrison. "Não há direito ético que permita assustar crianças para
ganhar dinheiro". Morrison afirmou receber cerca de 20 cartas e
mensagens de e-mail por dia de pessoas até da Índia, assustadas até o
último fio de cabelo. Em uma mensagem de e-mail, ele anexou exemplos que
incluíam uma mulher perguntando se deveria se suicidar, matar sua filha
e seu bebê ainda no útero. Outra mensagem veio de uma pessoa
questionando se deveria sacrificar seu cachorro, a fim de evitar o
sofrimento de 2012.
Tudo isso me fez lembrar os tipos de cartas que recebi no ano passado
sobre o suposto buraco negro do CERN. Isso também era mais ficção
científica do que fato científico, mas aparentemente não há nada melhor
que a morte para nos aproximar de domínios abstratos como física e
astronomia. Nessas situações, quando a Terra ou o universo não estão nem
aí para você e seus entes queridos, o cósmico realmente se torna algo
pessoal.
Morrison disse não culpar o filme por tudo o burburinho, não tanto
quanto os vários outros divulgadores das previsões maias e a aparente
incapacidade de algumas pessoas (e isso se reflete em vários aspectos da
nossa vida nacional) de distinguir a realidade da ficção. Porém, ele
disse, "meu doutorado foi em astronomia, não em psicologia".
Em mensagens de e-mail, Krupp disse: "Sempre estamos incertos em
relação ao futuro, e sempre consumimos representações dele. Somos
seduzidos pelo romantismo do passado longínquo e pela escala exótica do
cosmo. Quando tudo isso se junta, ficamos hipnotizados".
O porta-voz da NASA, Dwayne Brown, afirmou que a agência não faz
comentários sobre filmes, deixando essa tarefa para os críticos de
cinema. No entanto, quando se trata de ciência, disse Brown, "achamos
que seria prudente oferecer um recurso".
Se você quer ter algo para se preocupar, afirma a maioria dos
cientistas, deve refletir sobre as mudanças climáticas globais,
asteróides ou guerra nuclear. Porém, se a especulação sobre as antigas
profecias mexem com você, aqui estão algumas coisas, segundo Morrison e
outros, que você deve saber.
Para começar, os astrônomos concordam que não há nada especial em
relação ao alinhamento do Sol e do centro galáctico. Isso ocorre todo
mês de dezembro, sem nenhuma consequência física além do consumo
exagerado de panetones. De qualquer forma, o Sol e o centro galáctico
não vão exatamente coincidir, nem mesmo em 2012.
Se houvesse outro planeta lá fora vindo em nossa direção, todo mundo
já teria percebido. Quanto às violentas tempestades solares, o próximo
auge do ciclo das manchas solares só ocorrerá em 2013, e será no nível
mais suave, afirmam astrônomos.
O apocalipse geológico é uma aposta melhor. Já houve grandes
terremotos na Califórnia, e provavelmente haverá outros. Esses tremores
poderiam destruir Los Angeles, como mostrou o filme, e Yellowstone
poderia entrar em erupção novamente com uma força cataclísmica, mais
cedo ou mais tarde. Nós e nossas obras somos, de fato, apenas
passageiros frágeis e temporários na Terra. Porém, neste caso, "mais
cedo ou mais tarde" significa centenas de milhões de anos – e haveria
bastante aviso quando chegasse a hora.
Os maias, que eram astrônomos e cronometristas bons o suficiente para
prever a posição de Vênus 500 anos no futuro, merecem coisa melhor.
O tempo maia era cíclico; especialistas como Krupp e Anthony Aveni,
astrônomo e antropólogo da Colgate University, afirmam não haver
evidências de que os maias achassem que algo especial ocorreria quando o
marcador da Grande Contagem atingisse 2012. Existem referências em
inscrições maias a datas antes e depois da atual Grande Contagem,
afirmam os especialistas.
Sendo assim, continue pagando suas prestações normalmente.
Fonte:
http://www.24horasnews.com.br/index.php?mat=312060