Na linguagem maia, o nome da minúscula aldeia de Xul, no México, significa "o fim". Muito tempo atrás, ela era apenas o fim de um estrada. Aqueles que contam contos grandiosos, no entanto, dizem que estrangeiros se instalaram nela há quatro anos à espera do fim do mundo.
Em uma estrada de terra rodeada por campos de cerrado e charcos, os recém-chegados têm construído a sua própria colônia de casas de paredes espessas no final de uma unidade de terra a alguns quilômetros da aldeia.
Apenas isso se sabe ao certo: os pioneiros são italianos e criam gado, produzem queijo e cuidam de árvores frutíferas em um rancho de 101 hectares. Uma placa de concreto na beira da estrada anuncia em letras brancas o nome de seu reduto: Las Aguilas (As Águias, em tradução livre). Uma estátua de um metro e meio de altura de uma águia de ouro repousa sobre a placa.
O motivo pelo qual os recém-chegados vieram para Xul e aquilo no que acreditam têm alimentado uma especulação apocalítica nesta antes adormecida na região da Península de Yucatán.
"Sabemos de todas as fofocas daqui, mas sobre isso nada sabemos", disse o reverendo Yvan Gonzalez, um padre católico romano que celebra uma missa semanal nas noites de quarta-feira em uma igreja de pedra antiga, onde um telhado de zinco há muito tempo substituiu a cobertura de palha maia.
"É um grupo secreto", disse Gonzalez com uma risada. "As pessoas dizem que estão aqui porque o mundo vai acabar. Eles têm um monte de dinheiro para gastar para esperar pelo fim do mundo".
Esse lugar, afinal, está a poucos quilômetros de onde o mundo quase acabou da última vez, quando o asteróide de Chicxulub caiu a cerca de 65 milhões de anos atrás, um desastre que os cientistas teorizam ter sido a causa da extinção em massa dos dinossauros.
Xul também fica no que foi a mãe terra dos antigos maias, que alguns profetas dizem ter previsto uma data para o fim do mundo: o solstício de inverno de 2012. A data é a última em seu chamado calendário de longa contagem, o fim de um ciclo histórico de cerca de 5.125 anos. Um novo ciclo começa no dia seguinte.
Efrain Camara, balançando em uma rede no escritório da cooperativa agrícola de Xul, parecia confuso a respeito das supostas previsões de seus antepassados. "Segundo os cientistas, o mundo maia vai acabar", ele deu de ombros, com seu espanhol hesitante com as consoantes aspiradas da língua nativa maia. "Nós não sabemos. Só Deus sabe o que vai acontecer nos últimos dias?.
Rosalia Pacab, 78 anos, debruçada sobre seu bordado, não levou os cálculos astronômicos de seus antepassados com autoridade sobre o provável fim dos dias. "Bem, não é isso que diz a Bíblia?", disse.
Italianos
No início, os italianos permaneceram discretos. Eles contrataram moradores locais para limpar a terra, plantar árvores de laranja e começar a construção. Os maias, que tentam convencer o milho a brotar da camada de calcário que cobre a região ou migram para a Califórnia para ganhar a vida, receberam com alegria os novos trabalhos. "A coisa boa é que eles dão empregos para os meninos porque não há trabalho aqui", disse Adi Beltran, mãe de quatro filhos.
Então, no ano passado, um jornal em Mérida, capital do Estado de Yucatán, decidiu que tinha uma notícia bombástica. Artigos de primeira página declararam que os italianos vieram para Xul para se proteger contra o fim do mundo em 2012. Os repórteres entrevistaram trabalhadores que afirmaram que suas casas são ligadas por túneis subterrâneos. Houve até mesmo uma entrevista com um dos arquitetos mexicanos que disse que as imponentes paredes de suas casas são destinadas a aguentar inundações e outros desastres naturais.
A resposta oficial foi elétrica. Soldados marcharam pelo caminho de cascalho em busca de qualquer evidência de uso de drogas, oficiais da imigração verificaram papéis, funcionários do bem-estar social avaliaram as instalações. Jornais contrataram helicópteros para sobrevoar o local enquanto fotógrafos registravam tudo à distância.
Angel Ruiz, o secretário municipal do condado de Oxkutzcab, a cerca de 30 minutos ao norte de Xul, disse que as paredes tinham cerca de 2m50 de espessura e foram ?forradas com pneus".
"Os italianos são membros de uma seita que recruta aposentados ricos", ele disse enquanto abria o projeto de construção do assentamento. Um amigo carpinteiro lhe disse que casas são fortificadas, com suas portas construídas em três camadas: aço, uma grade de metal e madeira. "Eles têm cisternas, com milhares e milhares de litros de água", disse Ruiz. "Supostamente vieram aqui para viver e se proteger de qualquer coisa que possa acontecer?.
Depois da atenção que receberam no ano passado, os italianos fecharam as portas e colocaram placas que indicam que ali é uma "propriedade privada", declarando a área uma reserva ecológica. Mas eles conversaram com alguns de seus vizinhos. Ao lado de Las Aguilas fica a Reserva Biocultural Helen Moyers, que é gerido por um grupo sem fins lucrativos chamada Kaxil Kiuic e parcialmente financiada pela Universidade de Millsaps, de Jackson, Mississippi. Cientistas mexicanos na reserva estão estudando a floresta tropical seca da região, enquanto arqueólogos estão escavando Kiuic, um sítio maia.
"Eles são pessoas pacíficas e que trabalham duro", disse o diretor da reserva, James Callaghan, acrescentando que os italianos haviam procurado aconselhamento sobre conservação e agricultura biológica. "Nossa interação foi muito amigável e aberta?.
Callaghan não acredita nas histórias. "Esse tipo de jornalismo marrom precisa de coisas para mantê-lo vivo", disse ele, refletindo que os italianos podem ter, inadvertidamente, despertado o nacionalismo Yucatán. "Yucatán gosta de ser um mundo à parte por sua história e separação?.
A maioria dos trabalhadores da propriedade dos italianos ficou relutante em falar ao chegar para o trabalho de manhã cedo. Mas alguns deles, quando estimulados, repetiam os detalhes sensacionalistas.
"Eu vi um dos túneis", disse Jaime Xol, disse ele, que está construindo bebedouros para o gado da fazenda. "Você não cabe em pé", disse, acrescentando que eles ficam no mínimo a cerca de 10 metros de profundidade.
"Não é verdade", se irritou um dos italianos. Ele se recusou a falar enquanto deixava a propriedade em seu carro. Mas depois, quando suas suspeitas foram acalmadas, ele respondeu perguntas em espanhol fluente ao deixar uma loja em Xul. Os moradores construíram paredes espessas em suas casas para mantê-los frescos, como armações maias tradicionais, disse ele. Para cavar poços, eles precisaram trazer maquinaria pesada ao local. "Como poderiam construir túneis sem que ninguém visse", ele perguntou? O grupo veio para Xul não porque significa "o fim", mas porque a terra é barata, disse.
Ele deu mais detalhes, exceto por seu nome. "Pode me chamar de Juan Sinmiedo", ele disse. A comunidade é um retiro, ele contou, composto principalmente por aposentados. Quebrar as regras da comunidade significa expulsão.
Uma psicóloga mexicana chamada Carolina oferece orientação espiritual ao grupo. Juan disse não acreditar que o mundo irá acabar em 2012. "Mas os cientistas esperam algum tipo de mudança no campo magnético da Terra no próximo ano", acrescentou.
Mas mesmo se alguma coisa acontecer, ele disse talvez não totalmente em tom de brincadeira, as chances de que Yucatán seja poupada são muito boas. "Nós já tivemos um cataclisma aqui. Um asteróide", disse ele.
*Por Elisabeth Malkin
Fonte: http://www.tosabendo.com/conteudo/noticia-ver.asp?id=92325
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quarta-feira, 29 de junho de 2011
México: Chegada de italianos reavive histórias sobre apocalipse maia
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