O Observatório de Arecibo, em Porto Rico, morreu. Três semanas depois de um dos principais cabos de sustentação da sua cúpula ter desabado, danificado irremediavelmente o radiotelescópio, o icónico caçador de vida extraterrestre antecipou-se à sua demolição e desabou.
O radiotelescópio tinha ficado gravemente danificado no mês de agosto, depois de um cabo de suporte se ter partido, caído e colidido com a enorme estrutura, deixando um enorme buraco com cerca de 30 metros na sua parábola.
Nos meses que se seguiram, engenheiros e técnicos do observatório iniciaram preparativos para uma complexa reparação, mas a rutura de um segundo cabo, em novembro, complicou a situação, deixando o observatório em risco de colapso.
Na altura deste segundo colapso, a Fundação Nacional da Ciência (NSF) anunciou que o emblemático Observatório de Arecibo iria ser ser desativado, uma vez que os danos sofridos nos últimos meses tornaram o processo de reparação demasiado perigoso.
A notícia foi dada por Deborah Martorell, meteorologista da American Meteorological Society, no seu perfil no Twitter. “É com profundo pesar que comunico que a grande plataforma do Observatório de Arecibo acaba de colapsar”, diz a meteorologista.
Embora os detalhes do colapso estejam ainda por determinar, a rutura dos dois cabos de suporte, em agosto e setembro, colocou sob pressão extra os restantes cabos, que, nas últimas semanas, começaram a esfiar-se.
“Os cabos que ainda resistiam estavam a perder em média um fio por dia”, explicou à revista Science o diretor da Florida Space Institute (FSI), Ramon Lugo. O Observatório, propriedade da National Science Foundation (NSF), era gerido pela FSI. De acordo com um tweet da NSF, o colapso não provocou feridos.
Entretanto, Deborah Martorell publicou no Twitter fotos do radiotelescópio captadas antes e depois do colapso. “Foi a última vez que vi esta beldade. Lamentavelmente, agonizava”, diz a meteorologista.
Construído em 1963, o Arecibo já foi o maior telescópio do mundo, com um disco refletor com um diâmetro de 305 metros, e manteve esse estatuto até ser ultrapassado em 2019 pelo Radiotelescópio Esférico de 500 Metros de Abertura (FAST), da China.
O Arecibo alcançou dezenas de marcos astronómicos, tendo observado e registado novos dados científicos de exoplanetas, asteroides, pulsares, emissões de rádio e moléculas em galáxias distantes. Era um dos principais instrumentos na busca por vida extraterrestre, através do projeto SETI, Search for Extraterrestrial Intelligence.
O radiotelescópio também era usado para seguir as órbitas de objetos potencialmente perigosos, o que nos torna agora parcialmente cegos para esses perigos.
Com quase 60 anos, idade avançada para um instrumento astronómico, o Arecibo esteve várias vezes em risco de fechar por falta de financiamento, acabando sempre por provar a utilidade e justificar mais tempo de vida. Mas essa idade acabaria por levar a melhor sobre os cabos de suporte, precipitando o fim do emblemático caçador de extraterrestres.
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