Dentro de menos de um ano, as vacinas contra a covid-19 que
estão agora a ser administradas pelo mundo fora poderão já não ser
eficazes, por isso é urgente que se desenvolvam novos imunizantes para
combater outras variantes do novo coronavírus que vão aparecendo.
Esta é a previsão de um terço dos 77 cientistas entrevistados pela People’s Vaccine Alliance, segundo o The Guardian.
A People’s Vaccine Alliance é uma coligação de várias
organizações internacionais que fez uma pesquisa com 77
epidemiologistas, virologistas e infeciologistas de 28 países.
Na pesquisa, dois terços destes especialistas concluíram que, para
enfrentar a ameaça da covid-19 e as suas variações, terão que ser
criadas novas fórmulas para as vacinas porque as que foram agora criadas
poderão ser ineficazes dentro de cerca de um ano.
Por outro lado, perto de um terço dos inquiridos, considera que será em menos tempo: num espaço inferior a nove meses.
De acordo com o jornal britânico, 88% dos inquiridos considerou que o
facto de haver muitos países onde as taxas de vacinação são ainda
baixas faz com que apareçam mutações do vírus mais resistentes às vacinas que agora estão a ser administradas.
“A menos que vacinemos o mundo, deixamos o campo aberto para mais
mutações, que podem produzir variantes que podem escapar das nossas
vacinas atuais e exigir doses de reforço para lidar com elas”, constatou
Gregg Gonsalves, professor de epidemiologia na Universidade de Yale.
Uma pessoa vacinada baixa risco de agregado familiar ficar infetado
Um estudo divulgado na segunda-feira pelo Centro Europeu de Prevenção
e Controlo das Doenças (ECDC) revela que uma vacina contra a covid-19
num determinado agregado familiar pode reduzir em pelo menos 30% o risco de infeção nos restantes membros.
A informação consta de um relatório sobre o risco de transmissão da
SARS-CoV-2 por recuperados ou vacinados contra a doença, no qual o ECDC
dá conta de um estudo que indica que “a vacinação de um membro do
agregado familiar reduz o risco de infeção em membros suscetíveis do
agregado familiar em pelo menos 30%”.
Esse estudo destacado pela agência europeia, realizado na Escócia,
teve em conta profissionais de saúde e revela também que, como os
membros dos agregados familiares destes trabalhadores “poderiam também
ter sido infetados por outras vias, a redução do risco de infeção em 30%
é provavelmente uma estimativa por baixo e poderia na realidade atingir
os 60%”.
“Estas conclusões são consistentes com uma redução
substancial do risco de transmissão de indivíduos totalmente vacinados
para contactos suscetíveis”, acrescenta o ECDC no relatório.
E numa altura em que a campanha de vacinação na União Europeia (UE)
decorre mais lentamente do que o desejado, o centro europeu observa
também que “há provas de que a vacinação reduz significativamente a
infeção sintomática ou assintomática em indivíduos vacinados, embora a
eficácia da vacina varie em função do produto vacinal e do grupo-alvo”.
Além disso, “há também algumas provas de menor carga viral
e menor duração da disseminação em indivíduos vacinados, em comparação
com indivíduos não vacinados, o que se poderia traduzir numa transmissão
reduzida”, acrescenta.
Ainda assim, o ECDC alerta que “muitos dos estudos sobre a eficácia
da vacina foram realizados antes do aparecimento das variantes
preocupantes” da SARS-CoV-2, nomeadamente a britânica (já dominante
nalguns países da UE), da África do Sul e do Brasil, admitindo serem
necessárias mais análises.
No que toca à campanha de vacinação europeia, 18,2 milhões adultos
dos perto de 400 milhões de cidadãos da UE receberam já a segunda dose
da vacina contra a covid-19, levando a que só 4,1% da população europeia
esteja completamente imunizada, segundo a informação divulgada pela
Comissão Europeia na passada quinta-feira.
Bruxelas atribuiu estes níveis baixos de inoculações aos problemas de entrega das
vacinas da AstraZeneca para a UE, exigindo o executivo comunitário que a
farmacêutica recupere os atrasos na distribuição e honre o
contratualizado.
A meta de Bruxelas é que, até aofinal do verão, 70% da população adulta esteja vacinada.
Os dados divulgados pela instituição na passada quinta-feira
revelaram também que foram já administradas 62 milhões de doses de
vacinas em relação às 88 milhões distribuídas.
Atualmente, estão aprovadas quatro vacinas na UE: Pfizer/BioNTech, Moderna, AstraZeneca e Janssen (grupo Johnson & Johnson).
Até ao final deste primeiro trimestre, de acordo com Bruxelas,
chegarão à UE quase 100 milhões de doses de vacinas, a grande parte da
Pfizer/BioNTech (66 milhões, mais do que os 65 milhões inicialmente
acordadas), da AstraZeneca (30 milhões de um total de 120 milhões
inicialmente acordadas) e da Moderna (10 milhões).
Para o segundo trimestre, a expectativa do executivo comunitário é
que cheguem 360 milhões de doses à UE, principalmente da Pfizer/BioNTech
(200 milhões), da AstraZeneca (70 milhões de um total de 180 milhões
inicialmente acordadas), da Janssen (55 milhões) e da Moderna (35
milhões).
Reinfeções são raras
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) disse ainda que as reinfeções por SARS-CoV-2 são “bastante raras”, dado o nível “muito elevado” de proteção até sete meses após a infeção, mas pediu estudos devido às novas variantes.
A agência europeia precisa que “estudos que acompanharam pessoas
durante cinco a sete meses após a recuperação de uma infeção pelo
SARS-CoV-2 estimaram que o efeito protetor da infeção anterior é muito
elevado durante esse período, entre 81% a 100%”.
Ainda assim, “a proteção contra a reinfeção é menor em indivíduos com 65 anos ou mais”, acrescenta.
O ECDC alerta, porém, que “muitos destes estudos foram realizados
antes do aparecimento das variantes preocupantes do SARS-CoV-2”,
nomeadamente as que tiveram origem no Reino Unido, no Brasil e na África
do Sul.
“À medida que o número de indivíduos que adquirem imunidade natural
aumenta, espera-se que o número total de infeções diminua
significativamente, levando a uma diminuição geral da transmissão, a
menos que as alterações genéticas nas variantes circulantes induzam a
uma fuga imunitária significativa”, assinala.
A diretora do ECDC, Andrea Ammon, diz ser “muito encorajador ver que as reinfecções do SARS-CoV-2 são bastante raras”.
“Embora o efeito das novas variantes nos padrões de transmissão deva
ser acompanhado de perto, ainda esperamos que o número total de infeções
diminua significativamente à medida que a cobertura vacinal aumenta”,
adiantou.
https://zap.aeiou.pt/vacinas-podem-revelar-se-ineficazes-391266