A dúvida sobre o que acontece na atmosfera depois de um super vulcão entrar em erupção ainda se mantém presente entre os cientistas. Agora, uma equipa de pesquisa pode estar mais perto da resposta.
O grande acontecimento que aguçou a curiosidade dos cientistas deu-se há 75 mil anos nas terras altas da Guatemala: a erupção do super vulcão Los Chocoyos. Quando o vulcão entrou em erupção tinha magnitude de oito, a classificação mais alta no Índice de Explosividade Vulcânica (VEI).
Atualmente, o local da erupção é uma enorme caldeira, a Atitlán Caldera. O lago fica a cerca de 1.563 metros acima do nível do mar, orlada por três vulcões em forma de cone: Atitlán, Tolimán e San Pedro.
A beleza do Lago Atitlán é muito conhecida e hoje em dia é um dos destaques paisagísticos da Guatemala, sendo também uma atração turística nacional e internacional, mas também desperta grande interesse aos especialistas em vulcões.
Apesar do vulcão já estar morto, a caldeira dá evidências do poder que a erupção teve no passado, uma vez que a erupção deste vulcão é conhecida como um dos maiores eventos vulcânicos dos últimos 100.000 anos, refere o Phys.
Libertação de componentes químicos
Tendo em conta o que já se sabe sobre o vulcão, e para recolherem mais informações sobre as consequências que este evento teve no passado, os cientistas analisaram amostras de depósitos em camadas geológicas da altura em que a erupção aconteceu e perceberam que houve emissão de grandes quantidades de enxofre, cloro e bromo para a atmosfera.
A equipa percebeu as elevadas emissões da explosão tiveram consequências para a atmosfera e para o clima global durante décadas e quiseram perceber por quanto tempo em específico isso aconteceu.
Para isso, os cientistas tiveram de usar modelos de simulação que representam o conhecimento atual do sistema climático. Com esta abordagem, conseguiram simular o impacto de uma erupção semelhante a do Los Chocoyos e o efeito de grandes quantidades de emissões para a atmosfera.
De especial interesse era o efeito que a emissão teria na Oscilação Quase Bienal (QBO), uma mudança alternada das direções zonais do vento na estratosfera nos trópicos – que é a segunda camada da atmosfera terrestre de aproximadamente 15 a 50 km de altitude, onde o SO2 se converte em ácido sulfúrico, que condensa rapidamente formando aerossóis de sulfato.
Esses aerossóis na estratosfera aumentam a reflexão da radiação solar de volta para o espaço, o que contribuiu para que haja um arrefecimento da camada inferior da atmosfera.
“Uma erupção nesta dimensão foi capaz de fornecer quantidades de aerossóis e componentes químicos para a atmosfera e, de acordo com as nossas simulações de modelo, a erupção pode ter causado uma interrupção de 10 anos na QBO“, refere Kirstin Krüger, autora do estudo.
A investigadora acrescenta ainda que “a mudança na QBO teria começado 4 meses após a erupção, com ventos anormais de leste a durar 5 anos, seguidos por vento oeste, antes de retornar às condições normais da QBO, mas com uma periodicidade ligeiramente prolongada”.
A interrupção do sistema de vento é resultado do aquecimento do ar causado pelos aerossóis e por um efeito de arrefecimento causado pela redução da camada de ozónio após a erupção. Estes dois acontecimentos interagiram com a propagação das ondas atmosféricas e assim se interrompeu a QBO.
Os especialistas testaram o efeito das emissões em diferentes conjuntos de modelos e em cenários divergentes, sendo que as conclusões desses estudos complementares comprovaram os primeiros resultados.
O novo estudo, publicado na Geophysical Research Letters a 21 de janeiro, lança uma nova luz sobre o que acontece quando os super vulcões entram em erupção.
Hoje em dia existem cerca de 20 super vulcões em todo o mundo. Uma das mais famosas é a Caldeira de Yellowstone nos EUA.
https://zap.aeiou.pt/erupcao-super-vulcoes-estratosfera-391036
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