A prevalência do vírus da gripe tem sido praticamente inexistente desde que surgiu a pandemia de covid-19. Mas isso poderá mudar em breve.
Apesar de a atividade gripal ter sido praticamente inexistente no inverno passado, dois novos estudos preveem que a gripe voltará em força neste outono/inverno.
Uma das pesquisas sugere que poderão existir mais 100 mil a 400 mil hospitalizações de gripe em 2021-2022, em comparação com a época pré-covid.
Os resultados, publicados na plataforma de pré-impressão medrXiv e ainda não revistos por pares, sublinham a importância das vacinas contra a gripe, principalmente este ano — ambos os estudos sugerem que uma época de gripe mais complicada poderia ser evitada se as taxas de vacinação aumentassem de 20% a 50% em comparação com um ano pré-covid.
“A vacinação do maior número possível de pessoas contra a gripe será fundamental para evitar este cenário”, disse, em comunicado, Mark Roberts, diretor do Laboratório de Dinâmica da Saúde Pública da University of Pittsburgh Graduate School of Public Health e autor de ambos os estudos.
De acordo com o Live Science, no ano passado foram registados níveis historicamente baixos de atividade gripal, provavelmente devido às medidas de prevenção contra a covid-19, tais como o distanciamento social, encerramento de escolas e o uso de máscara.
No ano que passou, a taxa global de hospitalização por gripe nos Estados Unidos foi de apenas 4 hospitalizações por 100 mil pessoas, em comparação com a taxa habitual de 70 hospitalizações por 100 mil pessoas. Além disso, as mortes por gripe diminuíram em 95%, disseram os investigadores.
Isto significa que a população dos Estados Unidos “perdeu a oportunidade de estabelecer ou aumentar a sua imunidade [à gripe] para a futura época da gripe”, o que levanta a preocupação de que o vírus possa voltar em força quando as medidas contra a covid-19 forem levantadas, como já está a acontecer em vários países, continuaram.
Num dos novos estudos, liderados por Kyueun Lee, os investigadores utilizaram um modelo matemático, chamado modelo Susceptible-Exposed-Infected-Recovered (SEIR), e simularam epidemias de gripe e níveis de imunidade da população, ao longo de múltiplas estações, utilizando dados de 2009 a 2020.
Com a baixa atividade de gripe verificada na época de 2020-2021, verificaram que as hospitalizações aumentariam para 610 mil em 2021-2022, o que corresponde a mais 102 mil hospitalizações do que seriam esperadas se a época anterior tivesse registado níveis normais de atividade gripal.
No pior cenário, com uma estirpe altamente transmissível e baixos níveis de vacinação contra a gripe, o modelo previa mais 409 mil hospitalizações do que o esperado.
Mas isso pode ser evitado, desde que a percentagem de norte-americanos vacinados contra a gripe aumente dos típicos 50% para 75%.
No segundo estudo, liderado por Mary Krauland, foi utilizado um modelo diferente, chamado Framework for Reconstructing Epidemiologic Dynamics, para simular casos de gripe e hospitalizações durante duas estações de gripe sequenciais.
Aqui, a equipa de cientistas encontrou resultados semelhantes, que sugeriam que a estação da gripe de 2021-2022 poderia ver um aumento de 20% nos casos de gripe em comparação com uma estação pré-covid.
Crianças pequenas (com menos de dois anos de idade) estarão particularmente em risco de contrair gripe na época de 2021-2022 porque é pouco provável que tenham qualquer exposição prévia à doença, disseram os autores.
Mas o aumento das taxas de vacinação contra a gripe em apenas 10% poderia reduzir as hospitalizações em 6% a 46%, dependendo da transmissibilidade da gripe nesta estação.
“A twindemic — epidemias de gripe e de covid-19 coincidentes — que atingiu os nossos hospitais foi felizmente evitada no ano passado. Mas isso não significa que não possa acontecer”, disse Roberts.
https://zap.aeiou.pt/epoca-gripe-vai-ser-complicada-este-ano-429601
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