Ele considera a crença no fim do mundo uma boa oportunidade para o turismo local, mas reconhece que está preocupado com o grande número de turistas esperados na cidade, cuja capacidade é de 3 mil visitantes. Por isso, ele adianta que está finalizando um plano emergencial para os setores de saúde e segurança pública do município, que tem apenas 6.885 habitantes, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010.
“Estamos organizando uma programação artística e cultural, a partir do dia 12 de dezembro, aniversário de emancipação da cidade. As atividades vão até o Réveillon. Mas nossas principais atrações turísticas estão fora da cidade, como cachoeiras, trilhas, o Vale da Lua e o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Isso requer atenção especial para evitar acidentes”, alerta. O prefeito informou que vai solicitar reforços para o atendimento médico e no número de policiais civis e militares, já que a cidade tem uma delegacia, mas não há delegado. Apenas um agente.
Alienígenas
Quase toda a decoração de ruas e comércios de Alto Paraíso, incluindo hotéis e restaurantes, é inspirada em temas místicos. Um alienígena dá as boas-vindas ao turista logo na placa de entrada da cidade, às margens da GO-118. Em frente, dois portais de pedras remetem ao esoterismo. Poucos metros adiante, também na rodovia, um monumento tem a forma que lembra uma nave espacial.
No entanto, pondera: “As pessoas não precisam correr para Alto Paraíso. Todas as terras acima de mil metros de altitude oferecem segurança. O importante é fazer uma faxina no coração. Perdoar todas as pessoas e fazer a conexão, entrando em meditação”. Lemos argumenta que a data iniciará ‘uma grande transição planetária’. “Haverá a inversão dos polos, ou seja, mudará o sentido do globo terrestre. Isso causará muitos estragos, como vulcões e tsunamis”, afirma. Para ele, o amanhecer do dia 21 de dezembro será deslumbrante. “Arco-íris cruzando arco-íris”, descreve. Os problemas começariam após o meio-dia.
Pensei em procurar um psiquiatra"
Edison Lemos
Ele diz que teme a possibilidade do assunto causar pânico nas pessoas. Mas, caso a profecia não se concretize, confessa que ficará muito triste: “Porque eu não aguento mais esse mundo do jeito que está, com tanta coisa ruim”.
A suíça Singrid Kraft, de 76 anos, deixou seu país há sete anos e comprou uma fazenda em Alto Paraíso. Na área de 50 hectares, ela cultiva, de forma orgânica, frutas, verduras e legumes e estoca alimentos após desidratá-los. “Meu papel neste planeta é plantar. Deixei o meu país para servir o planeta”, define.
Singrid assegura que, embora haja o receio de que faltem alimentos a partir do dia 21 de dezembro, ela não produz apenas para sua família. “Pode ser útil para esse momento de transição. É muito provável que seja. Eu quero distribuir para quem precisar”, avisa.
Valorização dos imóveis
A suíça Singrid Kraft comprou a fazenda onde mora do corretor Nilton Kalunga, o mais antigo da cidade. Ele comemora o aumento na comercialização de imóveis e calcula que o setor já vendeu mais de 200 propriedades este ano. Os preços de casas, fazendas e lotes em Alto Paraíso – conhecida por suas belezas naturais - tiveram uma valorização considerável nos últimos dois anos, semelhante à que aconteceu às vésperas dos anos 2000, quando também acreditava-se que o mundo acabaria.
A maioria dos compradores, relata, tem ligação com a área mística, acompanha o calendário maia e está interessada em se proteger das previsões trágicas. “Tenho casas vendidas para pessoas que ainda não se mudaram. Devem chegar de vez para morar aqui no dia 19 de dezembro. Meus principais clientes são do exterior, além de brasileiros que moram do litoral, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo”, observa. Nas áreas mais valorizadas da cidade, como a Estância Paraíso, o corretor informa que não tem mais imóveis à venda. “O loteamento mais recente que estamos comercializando, em uma região mais distante, já está quase todo vendido e a metade dessas pessoas comprou por causa do fim do mundo”, estima.
Atuando há 20 anos na região, Nilton Kalunga conta que aprendeu a lidar com os hábitos diferentes dos clientes que se mudam para Alto Paraíso. “Aqui, há mais de 30 nacionalidades convivendo em harmonia. São pessoas cultas, que se preocupam com a natureza mas, por suas crenças, têm todo um ritual para efetuar a compra”, explica. Entre as exigências, revela o corretor, eles sempre consultam a numerologia antes de marcar dia e hora para fechar o negócio.
Ele diz não acreditar no fim do mundo, mas admite a possibilidade de “algo estranho” acontecer no dia 21 de dezembro: “A gente leva na brincadeira, mas, às vezes, para pra pensar e torce para não ser verdade”.
Pintados de branco, os chalés – construídos à base de cimento e ferro - têm três janelas grandes e vários buracos no teto, que não têm telhas. “É uma construção ecologicamente correta. Nas janelas e nos buracos do teto serão colocados vidros, para aproveitar a luz natural. A cama é de alvenaria. Além do lado ecológico, alguns querem se proteger melhor de possíveis catástrofes e, por isso, não usam telhas, para diminuir os impactos de uma possível ventania”, esclarece o corretor.
fonte: http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/11/cercada-por-misticismo-alto-paraiso-se-prepara-para-o-fim-do-mundo.html
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