Um futuro sem “gravidez indesejada” e “sem abortos“: é o que prevê o
prof. Carl Djerassi para 2050, data na qual, acredita ele, boa parte dos
bebês do mundo ocidental nascerão por fecundação in vitro, logo, por
procriação medicalmente assistida. Conhecido como um dos inventores da
pílula contraceptiva, o professor austro-americano considera a
obsolescência de sua invenção: rapazes e moças congelarão seus gametas e
se esterilizarão, certos de poder recorrer à PMA, estima ele.
Numa entrevista ao Daily Telegraph, o cientista justifica suas
predições pela taxa de sucesso crescente das fecundações artificiais, o
que permitirá, de acordo com ele, considerá-las fora do contexto de
infertilidade, tranquilizando a “geração mañana” sobre o fato de que ela
poderá adiar tranquilamente a maternidade ou a paternidade – com a
certeza de que esperma e óvulos, retirados em sua juventude, sejam da
“melhor qualidade”.
Ao modo de um Jacques Attali, Djerassi acredita poder predizer – mas é
verdade que a cultura ambiente impele nesse sentido. “A grande maioria
das mulheres que escolherão a FIV no futuro serão mulheres férteis que
congelaram seus óvulos e adiaram sua gravidez. As mulheres de vinte anos
escolherão essa abordagem como uma forma de segurança, que lhes garanta
a liberdade diante das decisões profissionais, ou, na ausência de um
parceiro ideal, ou do tic-tac inexorável do relógio biológico. Contudo,
prevejo que muitas delas decidirão ser fertilizadas por IVF em razão dos
avançados diagnóstico genéticos pré-implantação. E uma vez que isso
ocorrer, o IVF se tornará um modo normal, sem coito, de ter filhos“,
acha ele.
Essa será a última separação entre o sexo e a reprodução, assegura esse
homem de 91 anos que acompanhara a “liberação sexual” dos anos 1960
antes dela produzir o resultado lógico.
Nessas previsões dignas do Melhor dos mundos, vê-se a conjunção contra a
natureza entre o domínio absoluto da fecundidade, o eugenismo total e a
desnaturalização da sexualidade. E da paternidade e da maternidade:
quanto tempo duraria a vontade de ser pais biológicos de seus filhos, se
um “produto” de melhor qualidade se tornasse assim facilmente
acessível? E por que, nesse momento, não generalizar o que já ocorre
hoje de modo excepcional: “alugar” uma barriga de aluguel para não
estragar seu corpo, interromper sua carreira, viver os espasmos da
gravidez?
De todo modo, a atividade sexual não teria mais então nenhum
significado: desprovida de sua finalidade procriadora, ela seria ao
mesmo tempo esvaziada de sua finalidade unitiva, para conservar apenas
uma dimensão “recreativa”, sem responsabilidade e inconsequente. Um
mundo totalmente desumano…
Não é isso, todavia, que os numerosos artigos críticos publicados na
imprensa britânica lhe recriminam após essa entrevista: enfatiza-se o
perigo de colocar tudo no mesmo saco, sobre o modo cujas tais promessas
podem enganar as pessoas sobre o absoluto domínio da fertilidade, que
continua fora de alcance. Mas e sobre o princípio? Sem problemas!
Fonte: Dominus Est
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