A poluição tecnológica do espaço circundante está a ocorrer de uma forma tão intensa que nos próximos vinte anos podemos praticamente deixar de ter órbitas terrestres baixas seguras que possam ser utilizadas. Essa previsão sombria, mas que não é de todo nova, foi anunciada pelo presidente da Roscosmos, Vladimir Popovkin, na sua intervenção perante o Conselho da Federação.
Atualmente
são usados dois tipos de órbitas para diversos fins, explicou à Voz da
Rússia o membro-correspondente da Academia Russa de Cosmonáutica K. E.
Tsiolkovski (ARCT) Andrei Ionin:
“O primeiro
tipo de órbitas é a órbita heliossíncrona. Um satélite que nela se
encontre, assim como os objetos terrestres que se encontrem por baixo
dele num dado momento, são sempre iluminados pelo Sol sob o mesmo
ângulo. Isso é muito cômodo e não é por acaso que a maioria dos
satélites que observam da Terra para diversos fins, tanto militares como
civis, utilizam essas órbitas. Essas órbitas se situam a uma altitude
de seiscentos a mil quilômetros. Outra órbita, a geoestacionária, se
situa sobre o equador da Terra a uma altitude de cerca de trinta e seis
mil quilômetros. A sua comodidade consiste em o período de rotação de um
satélite que se encontre nessa órbita ser igual ao período de rotação
da Terra. Devido a isso, o satélite parece ficar “suspenso” sobre um
determinado ponto do equador.”
Se as órbitas baixas
já são na sua maioria usadas pelos satélites-espiões e pelos satélites
científicos, já a órbita geoestacionária é simplesmente indispensável
para os aparelhos espaciais que asseguram todo o tipo de comunicações,
retransmissões, assim como de alerta precoce de ataques de mísseis.
Neste momento, a órbita geoestacionária conta com várias centenas de
satélites diferentes. A maioria deles são aparelhos em funcionamento,
mas já há bastantes que já terminaram o seu período de vida útil e
representam lixo espacial.
Segundo os dados obtidos
por diversos serviços que monitorizam a órbita terrestre, a órbita
geoestacionária tem em funcionamento, ou simplesmente presentes, mais de
catorze mil objetos de origem artificial. São objetos cujas dimensões
são superiores a dez centímetros, referiu o membro da Federação de
Cosmonáutica da Rússia e membro da ARCT Alexander Zheleznyakov:
“A
quantidade de fragmentos mais pequenos de estágios descartados de
foguetes-portadores, partes de satélites e tudo o mais já se cifra em
centenas de milhares. Eles são praticamente impossíveis de monitorizar a
partir da Terra. Os antigos aparelhos espaciais com reatores nucleares
estão colocados na órbita cemitério, isto fica a cerca de 38 mil
quilômetros de altitude da superfície Terra. Se bem me recordo, a sua
quantidade total não supera as quatro dezenas. Houve um período em que
eles eram lançados com regularidade para a órbita terrestre baixa, mas
depois esses lançamentos terminaram.”
O presidente da
Roscosmos Vladimir Popovkin informou que, há três anos, a probabilidade
de haver uma colisão de um aparelho espacial com lixo espacial com
dimensões superiores a um centímetro era estimada em um caso em cinco
anos. Hoje, as hipóteses de colidir com um fragmento aumentaram para uma
probabilidade em cada ano e meio a dois anos. As tripulações da Estação
Espacial Internacional (EEI) são obrigados a manobrar pelo menos uma
vez por ano para sair de zonas de perigo de aproximação de objetos de
grandes dimensões. Para um satélite, nave ou para a EEI um encontro com
um fragmento de um centímetro é equivalente à colisão com um automóvel
que circule à velocidade de 80 quilômetros por hora. É impossível evitar
a “multiplicação” e a trituração do lixo, os aparelhos desativados se
desfazem e explodem. Tudo isso aumenta a quantidade de elementos que
circulam caoticamente nas órbitas terrestres e que destroem o lixo que
encontram na sua passagem.
As acumulações de lixo
espacial continuam a aumentar e a ameaçar os satélites, as naves
orbitais e as estações, assim como a população terrestre e a natureza.
Mas também não podemos suspender os lançamentos porque a atividade da
nossa civilização iria cessar sem as comunicações globais. Foram
propostos, e continuam a sê-lo, diversos métodos para resolver o
problema do lixo espacial, incluindo métodos tão exóticos como a recolha
dos fragmentos com redes especiais. Até a estação soviética Mir ter
sido afundada, tinha circulado a ideia de a usar para transporte de
lixo.
No entanto, constatou Alexander Zheleznyakov,
não foram ainda desenvolvidos projetos realistas para uma limpeza
espacial que fossem exequíveis do ponto de vista tanto técnico como
financeiro. Porém, temos de nos apressar porque a situação está se
agravando de ano para ano e, num dado momento, o homem será expulso do
espaço pelo seu próprio lixo.
Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/2013_03_14/O-planeta-Terra-ir-sufocar-no-lixo/
Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/2013_03_14/O-planeta-Terra-ir-sufocar-no-lixo/
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