Jennifer A. Doudna
Um grupo de biólogos pediu recentemente uma moratória mundial para pausar a utilização de uma nova técnica de edição de genoma que alteraria o DNA humano de uma forma que pode ser herdada.
Os biólogos temem que a nova técnica seja tão eficaz e fácil de usar que alguns médicos abusarão dela antes de sua segurança poder ser avaliada. Eles também querem que o público compreenda as questões éticas que envolvem a técnica, que poderia ser usada para curar doenças genéticas, mas também para melhorar qualidades como beleza ou inteligência. Este último é um caminho que muitos especialistas em ética acreditam que nunca deve ser tomado.
Você poderia exercer o controle sobre a hereditariedade humana com esta técnica, e é por isso que estamos levantando a questão”, explica David Baltimore, ex-presidente do Instituto de Tecnologia da Califórnia e membro do grupo que está pedindo a moratória.
Os biólogos temem que a nova técnica seja tão eficaz e fácil de usar que alguns médicos abusarão dela antes de sua segurança poder ser avaliada. Eles também querem que o público compreenda as questões éticas que envolvem a técnica, que poderia ser usada para curar doenças genéticas, mas também para melhorar qualidades como beleza ou inteligência. Este último é um caminho que muitos especialistas em ética acreditam que nunca deve ser tomado.
Você poderia exercer o controle sobre a hereditariedade humana com esta técnica, e é por isso que estamos levantando a questão”, explica David Baltimore, ex-presidente do Instituto de Tecnologia da Califórnia e membro do grupo que está pedindo a moratória.
Mudanças hereditárias no DNA
Eticistas, por décadas, têm se preocupado com os perigos de alteração
da linha germinal humana – ou seja, alterações de esperma humano,
ovários ou embriões que vão durar durante toda a vida do indivíduo e ser
transmitidos às gerações futuras. Até agora, estas preocupações foram
teóricas. Mas uma técnica inventada em 2012 faz com que seja possível
modificar o genoma de forma precisa e com muito mais facilidade. A
técnica já foi usada para editar os genomas de camundongos, ratos e
macacos, e poucos duvidam que iria funcionar da mesma forma nas pessoas.
A técnica tem o poder para reparar ou melhorar qualquer gene humano.
“Isso levanta a mais fundamental das questões sobre como nós vamos ver a
nossa humanidade no futuro e se vamos dar o passo dramático de
modificar nossa própria linha germinal e em um sentido assumir o
controle de nosso destino genético, o que suscita enorme perigo para a
humanidade”, alerta George Q. Daley, especialista em células-tronco do
Hospital Infantil de Boston.
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Os biólogos apoiam a continuidade das pesquisas de laboratório com a
técnica, e poucos – talvez nenhum – acreditam que ela está pronta para
uso clínico. Tal uso é fortemente regulado nos Estados Unidos e na
Europa. Cientistas norte-americanos, por exemplo, teriam que apresentar
um plano para tratar doenças genéticas na linha germinal humana.
Os autores do artigo, no entanto, estão preocupados com países que
têm menos regulamentação na ciência. Eles pedem que “os cientistas
evitem até mesmo a tentativa, em jurisdições mais flexíveis, de
modificação do genoma da linha germinal para aplicação clínica em seres
humanos”, até que todas as suas implicações “sejam discutidas entre as
organizações científicas e governamentais”.
Embora tal moratória não seja juridicamente vinculativa e pareça
improvável de exercer influência global, há um precedente. Em 1975,
cientistas do mundo todo foram convidados a se abster de utilizar um
método para manipular genes, a técnica de DNA recombinante, até que as
regras fossem estabelecidas.
“Pedimos então que ninguém fizesse certas experiências, e de fato
ninguém fez, que eu saiba”, diz Baltimore, que era membro do grupo de
1975.
Precisão é a chave
DNA recombinante foi o primeiro de uma série de passos cada vez
melhores para a manipulação de material genético. O principal problema é
o da precisão, de editar o DNA precisamente no local pretendido, uma
vez que qualquer alteração fora do alvo pode ser letal. Dois métodos
recentes, conhecidos como dedos de zinco e efetores TAL, chegaram perto
da meta de edição precisa do genoma, mas ambos são difíceis de usar. A
nova abordagem foi inventada por Jennifer A. Doudna da Universidade da
Califórnia e Emmanuelle Charpentier, da Universidade de Umea, na Suécia.
O método, conhecido pela sigla CRISPR-Cas9, coopta o sistema
imunológico natural, fazendo com que as bactérias se lembrem do DNA dos
vírus que as atacam para que estejam prontas na próxima vez que esses
mesmos invasores aparecerem. Os pesquisadores podem simplesmente
preparar o sistema de defesa com uma sequência de sua escolha e, em
seguida, ela vai destruir a sequência de DNA correspondente em qualquer
genoma que seja apresentado. Doudna é a principal autora do artigo que
pede o controle da técnica e organizou a reunião em que a declaração foi
desenvolvida.
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Embora altamente eficaz, a técnica ocasionalmente corta o genoma em
locais não pretendidos. A questão de quanto erro poderia ser tolerado em
um ambiente clínico é aquele que o grupo de Doudna quer ver
exaustivamente explorada antes de qualquer genoma humano ser editado.
Os cientistas também dizem que a substituição de um gene defeituoso
por um normal pode parecer totalmente inofensivo, mas talvez não seja.
Muitos especialistas em ética aceitam a ideia de terapia genética se
as alterações morrem com o paciente, mas traçam uma linha clara em
alterar a linha germinal, uma vez que esta se estende para as gerações
futuras.
Pragmatismo x alteração da natureza
Existem duas grandes escolas de pensamento sobre como modificar a
linha germinal humana, afirma R. Alta Charo, bioeticista da Universidade
de Wisconsin e membro do grupo de Doudna. Uma é pragmática e busca
equilibrar benefícios e riscos. A outra “estabelece limites inerentes
sobre quanto a humanidade deve alterar a natureza”, diz ela. Algumas
doutrinas cristãs se opõem à ideia de brincar de Deus, ao passo que no
Judaísmo e no Islã existe a noção “de que a humanidade deve melhorar o
mundo”.
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Outros cientistas concordam com a mensagem do grupo de Doudna. “É
muito claro que as pessoas vão tentar fazer a edição genética em
humanos”, supõe Rudolf Jaenisch, biólogo de células-tronco no Instituto
Whitehead, em Cambridge. “Este documento apela para uma moratória sobre
qualquer aplicação clínica, o que eu acredito que é a coisa certa a se
fazer”.
Edward Lanphier e outros cientistas envolvidos no desenvolvimento da
técnica do dedo de zinco, rival da edição do genoma, também pediram uma
moratória sobre a modificação da linha germinal humana, dizendo que o
uso de tecnologias atuais seria “perigoso e eticamente inaceitável”. A
Sociedade Internacional de Pesquisa em Células Tronco também apoia a
moratória proposta.
O grupo também ainda trabalha para desenvolver algum processo mais
formal, como uma reunião internacional organizada pela Academia
Americana de Ciências, para estabelecer diretrizes para o uso humano da
técnica de edição do genoma. “Precisamos de um acordo se queremos
melhorar a humanidade dessa forma ou não”, afirma Jaenisch. “Você tem
que ter essa discussão porque as pessoas estão se preparando para fazer
isso”.
Fonte: http://hypescience.com/cientistas-pedem-paralisacao-de-uso-de-tecnica-que-pode-alterar-o-dna-humano-de-forma-hereditaria/
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