Enquanto Elon Musk
acelera seus planos para mandar sua nave Starship, com capacidade para
cem tripulantes, em viagens por todo o sistema solar (e, em particular,
para Marte) a partir de 2024, a comunidade de astrobiólogos começa a se
preocupar com o que poderemos deixar nos planetas visitados.
“Marte é um dos principais candidatos a hospedar algum tipo de vida
microbiana. No entanto, existe o risco de humanos cheios de micróbios
contaminarem o planeta. E isso pode ameaçar vida alienígena ou tornar
impossível descobrir se algum micróbio tem origem marciana ou
terrestre”, explicou a astrobióloga e diretora do Observatório de
Bayfordbury, Samantha Rolfe, em artigo para o site The Conversation.
Segundo Elon Musk, serão necessários um milhão de humanos para construir uma civilização viável e auto-sustentável em Marte,
Segundo ela, a “missão de Elon Musk pode ser mais catastrófica do que um passo ousado na exploração espacial.
O anúncio de que estamos perto de ter naves tripuladas cruzando o
sistema solar é emocionante, mas não posso deixar de ter reservas morais
sobre isso; minha preocupação é principalmente astrobiológica”.
Na bagagem, quase tudo - menos armas
Mesmo que todo o trabalho de preparação de uma missão espacial siga
protocolos rigorosos, os riscos de contaminação existem. O Tratado do
Espaço Exterior (homologado em outubro de 1967) só proíbe armas no
espaço.
Em abril de 2019, a sonda espacial israelense Beresheet caiu na Lua e
pode ter espalhado milhares de tardígrados desidratados e amostras de
DNA pela superfície do satélite. Durante as missões Apolo, os
astronautas da NASA deixaram não apenas pegadas, como também fezes humanas. Como será a exploração de Marte?
A Lua, agora, conta com uma população de tardígrados
“A SpaceX deveria adiar o envio de pessoas a Marte até termos os resultados das próximas missões de detecção de vida, os rovers Mars e ExoMars”,
diz a astrobióloga. “Musk não parece muito preocupado com a
contaminação. Se levasse esse assunto a sério, esperaria ver em seu site
algo como 'Proteção planetária da Space X'. Mas esse não é o caso.”
A cientista aponta que o problema não atinge somente a possível vida
existente em Marte. “Os astronautas também seriam expostos à radiação do
espaço profundo durante a viagem de seis meses para o planeta, que não
tem atmosfera que os proteja. A tecnologia contra radiação está ainda
engatinhando. Acrescente a isso o impacto ambiental dessas missões,
liberando muito dióxido de carbono. Os riscos de contaminar Marte, ferir
astronautas e danificar o meio ambiente são muito reais”.
Contaminação nos dois sentidos
Existem dois tipos de contaminação planetária: a reversa (do espaço
para a Terra) e a direta (da Terra para outros astros). Um grupo de
trabalho chamado Comitê de Pesquisa Espacial (COSPAR) se reúne a cada
dois anos para desenvolver diretrizes sobre a contaminação
interplanetária, usando como base o Tratado do Espaço Exterior.
A Agência Espacial Europeia trabalha no projeto de módulos para abrigar os primeiros colonos na Lua.
Segundo a diretora para Proteção Planetária da NASA, Catharine
Conley, o objetivo é sempre melhorar os protocolos para missões
espaciais. “É essencial que eles sejam a base norteadora de toda missão
desde o seu início, e os engenheiros precisam segui-los ao projetar
sistemas tripulados para viajar além da órbita da Terra."
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114011-missoes-da-space-x-podem-contaminar-todo-o-sistema-solar.htm
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