Cadáveres estão em casa e nas ruas de Guayaquil, Equador, uma
cidade tão atingida pelo novo coronavírus que hospitais sobrelotados
estão a recusar até os pacientes em estado grave e casas funerárias não
estão disponíveis para enterros.
Os dados sobre mortes e infeções estão incompletos no Equador, como
acontece em toda a região. A 22 de abril, o Equador – um país com 17
milhões de pessoas – tinha relatado quase 11.000 casos, o que, per
capita, o deixaria atrás apenas do Panamá na América Latina. Mas o número verdadeiro é provavelmente muito maior.
O governo da província de Guayas, onde fica Guayaquil, diz que 6.700
moradores morreram na primeira quinzena de abril, em comparação com
1.000 num ano normal. Uma análise do The New York Times estima que o número real de mortes por coronavírus no Equador possa ser 15 vezes superior às 503 mortes registadas oficialmente a 15 de abril.
Numa pandemia que atingiu amplamente os países ricos primeiro, o
Equador é um dos primeiros países em desenvolvimento a enfrentar um
surto tão terrível.
A riqueza não é garantia de segurança numa epidemia. A Itália e os
Estados Unidos têm falta do equipamento médico necessário, como
ventiladores e máquinas de diálise. Mas especialistas concordam que os
países mais pobres provavelmente verão as taxas de mortalidade
aumentarem rapidamente.
Numa investigação sobre a política equatoriana e segurança humana em pandemias passadas sugere que o coronavírus pode criar uma maior turbulência política e económica num país que já luta contra a instabilidade.
A rápida resposta do Equador
O surto de coronavírus em Guayaquil, a maior cidade e motor económico
do Equador, começou em fevereiro, aparentemente com pessoas infetadas a
regressarem de Espanha.
A sua rápida escalada levou as autoridades em pânico a impor rapidamente o isolamento social como uma estratégia de contenção. As restrições de circulação do Equador tornam-se cada vez mais rígidas.
Os equatorianos não podem sair de casa entre as 14:00h e as 05:00h.
Fora do toque de recolher, só podem sair para buscar comida, para
trabalhos essenciais ou por motivos de saúde, usando máscara e luvas. Os transportes públicos estão suspensos.
Em Quito, a capital do Equador, as pessoas só podem conduzir um dia por semana, conforme determinado pela matrícula do veículo.
Os limites da resposta equatoriana
No Equador, onde o rendimento médio anual é de 11 mil dólares, o governo de Moreno está a conceder subsídios de emergência de 60 dólares
a famílias cujo rendimento mensal é inferior a 400 dólares. Abriu
abrigos para retirar os sem-abrigo das ruas e ordenou hotéis para que
colocassem os infetados em isolamento.
Uma rede ativa de organizações comunitárias também está a trabalhar para fornecer comida e abrigo aos necessitados.
Apesar da sua resposta ativa ao coronavírus, é improvável que o Equador aguente bem se a epidemia se espalhar rapidamente de Guayaquil para o resto do país.
O Equador tem falta de ventiladores e os testes para a covid-19 são escassos
e foram amplamente terceirizados para empresas privadas, tornando-os
absurdamente caros. A expulsão de 400 médicos cubanos do Equador no ano
passado deixou também grandes buracos nos hospitais, que já tinham
poucos funcionários.
A economia do Equador está em crise após o colapso
dos preços do petróleo e do turismo. E enquanto os protestos mortais do
ano passado terminaram, a agitação política continua a polarizar a
nação.
A taxa de mortalidade do Equador está a começar a diminuir após mais
de um mês de quarentena, mas o espectro das vítimas da covid-19 sem
enterro em casa, nos corredores dos hospitais e nas ruas, paira como um fantasma na América Latina.
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