A
Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores exportadores de trigo e
fertilizantes do mundo — e o conflito entre os dois países está a criar
problemas aos seus compradores nas cadeias de fornecimento.
A
guerra na Ucrânia está a abalar a Europa, mas as repercussões estão a
ser sentidas por todo o mundo — e os ucranianos não são as únicas
vítimas. Juntos, Rússia e Ucrânia são responsáveis por um quarto das
exportações de trigo em todo o mundo, e o conflito entre ambos está a
afectar a cadeia de fornecimento.
Devido ao clima árido e
quente, que é também menos propenso à agricultura, o Médio Oriente e
África estão a ser as regiões mais impactadas. Quase metade do trigo
importado pela Tunísia tem origem ucraniana e os preços chegaram agora a
um valor que já não era registado há 14 anos.
O Estado controla
o preço do pão, mas os tunisinos receiam que a inflação causada pela
guerra eventualmente se faça sentir nos seus bolsos. A economia do país
já é frágil devido à crise que tem vivido nos últimos anos, com
desemprego elevado e a dívida pública em alta.
Mas a Tunísia não está sozinha. O Iémen, que já está a sofrer com uma guerra civil desde 2014 e uma consequente crise humanitária, está também a sentir as réplicas do conflito europeu, visto que importa quase todo o seu trigo, com mais de um terço vindo da Rússia e da Ucrânia.
Para além disto, a dieta da população baseia-se muito no pão — numa altura em que cerca de oito milhões de crianças estão a passar fome, mais de metade das calorias diárias consumidas pelas famílias estão no pão, escreve o The Guardian.
O Líbano também está a ser afectado, visto que mais de metade das suas importações de trigo são ucranianas. O Ministro da Economia, Amin Salam, já terá dito que o país tem apenas trigo suficiente para mais “um mês, ou um mês e meio“, estando já à procura de novos fornecedores.
Já no Egipto, mesmo antes da guerra, os preços do trigo já tinham subido 80% entre Abril de 2020 e Dezembro de 2021 e o Governo anunciou que vai aumentar o custo do pão, que é altamente subsidiado, pela primeira vez em décadas.
“A insegurança alimentar causa agitação e violência”
A porta-voz do Programa Alimentar Mundial no Egipto, Abeer Etefa, acredita que o fornecimento de muitos bens de “importância particular” para o Médio Oriente e o norte de África já está a ser afectado pelo conflito.
Mesmo que os países optem por comprar a outros países, os produtos vão demorar mais a chegar e o transporte será mais caro do que se estes viessem da Ucrânia.
“A guerra leva a uma maior insegurança alimentar e a insegurança alimentar aumenta a probabilidade de haver agitação e violência“, afirma, alertando que a guerra na Europa pode assim acender conflitos noutras partes do planeta.
“Há já 276 milhões de pessoas em 81 países a sofrer de fome aguda. O mundo simplesmente não aguenta com mais um conflito. A guerra de Putin não está só a causar sofrimento na Ucrânia. Os efeitos vão sentir-se muito além da região”, afirma Martin Frick, director do Programa Alimentar Mundial na Alemanha.
No Quénia, o trigo é especialmente importante para a população mais pobre. “Os preços vão subir ainda mais por causa da guerra e os mais pobres vão sofrer ainda mais as consequências”, revela o economista queniano Timothy Njagi.
Para além do trigo, a Ucrânia e a Rússia são também grandes exportadores de fertilizantes, e os preços têm também notado uma escalada. O problema acaba assim por ser um ciclo vicioso — com os agricultores africanos a serem obrigadores a usar menos fertilizantes do que o normal, o que leva a colheitas mais pequenas e, consequentemente, mais caras.
https://zap.aeiou.pt/guerra-ucrania-africa-medio-oriente-pao-466586
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