Os resultados só eram esperados em 2015, mas uma monitorização de rotina fez do ensaio clínico HPTN 052 a revelação científica do ano, para a “Science” e as agências mundiais de combate à sida. O ensaio de 73 milhões de dólares ia estudar o impacto da toma de anti-retrovirais na transmissão do vírus, algo que em teoria deveria travar a capacidade de infecção dos portadores do vírus (pela diminuição da carga viral).
Depois de inscreverem 1763 casais serodiscordantes no estudo e medicarem metade para poderem comparar o ritmo de novas infecções com o grupo de controlo, os cientistas liderados por Myron Cohen, da Carolina do Norte, EUA, perceberam que, mesmo sem o uso de preservativo, eram prevenidas 96% das infecções. Das 28 novas infecções no espaço de um ano, apenas uma surgiu no grupo medicado. Deram de imediato anti- -retrovirais a todos os inscritos e o ensaio foi dado como encerrado. Os editores da “Science” lembram como ainda em 2008 esta ideia era questionada por entidades como a Organização Mundial de Saúde, que pediu mais resultados. “O tratamento é prevenção”, disse Anthony Fauci, cientista da administração norte-americana para a sida, numa frase que se tornou emblema da descoberta.
A “Science” escreve que as implicações são profundas, embora o caminho seja longo e dispendioso: “Os resultados do ensaio HPTN 052 e outros sucessos recentes aumentaram a esperança de que combinar intervenções pode agora pôr fim à epidemia em países inteiros e no mundo.” Entrave: os custos de uma medicação que terá de ser universal e é necessária para cada vez mais doentes, dado que as mortes por sida foram reduzidas a metade nos últimos dez anos e a esperança de vida aumenta. Só em 2010 foram evitadas 700 mil mortes com o uso de medicação. Segundo os últimos dados da ONUSida, e apesar das melhorias no acesso a anti-retrovirais, nos países em desenvolvimento apenas 47% dos candidatos a medicação estão a receber tratamento.
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