O anúncio feito pela Agência Espacial Americana (Nasa) de que um planeta recentemente descoberto, o Kepler-22b, tem todas as condições possíveis para ser habitado deixou a comunidade científica em polvorosa. Isso teoricamente significa que, além de poder suportar uma eventual colonização humana, o astro teria condições de abrigar algum tipo de vida extraterrestre. Nunca se esteve tão perto de uma resposta à pergunta: “Afinal, estamos sós?”. Embora esse seja o planeta mais semelhante da Terra já encontrado, existem outros, fora do nosso Sistema Solar, que poderiam abrigar vida. Dos mais de 1,6 mil identificados ou ainda por confirmar, oito, além do Kepler-22b, encaixam-se nessa categoria. E 30 luas – incluindo a famosa Pandora, cenário do filme Avatar – também seriam habitáveis.
O mais completo catálogo de exoplanetas, aqueles que se encontram em outros sistemas solares, foi publicado pelo Laboratório de Planetas Habitáveis da Universidade de Porto Rico, em Arecibo, que os listou e fez um ranking de habitabilidade. O KOI 736.01, também identificado pelo telescópio Kepler, é o maior candidato a abrigar vida. Com uma massa praticamente igual à da Terra, esse exoplaneta está a 1.750 anos-luz de distância – muito, mas muito longe daqui. Para se ter uma ideia, se fosse possível enviar uma mensagem, à velocidade da luz, para os moradores de lá, eles a receberiam daqui a 17 séculos.
“A única maneira de suspeitarmos da existência de vida em outros planetas é lançar no espaço supertelescópios, como o Procurador Planetário Terrestre, da Nasa, ou o Darwin, da Agência Espacial Europeia”, explica ao Estado de Minas o astrofísico Stephen P. Maran, autor de oito livros sobre o Universo (no Brasil, foi editado Astronomia para leigos, da Alta Books). “As pessoas gostariam de pensar que um contato com extraterrestres ocorreria como nos filmes, mas, pela distância, é mais provável que esses equipamentos, que devem ser instalados até 2020, é que nos tragam respostas”, diz.
Para eleger a habitabilidade dos exoplanetas, os cientistas de Arecibo, onde está instalado o maior radiotelescópio do mundo, levam em consideração diversos fatores. “Um dos critérios é a distância entre o planeta e sua estrela-mãe, que medimos em distância de zonas habitáveis (HZU, sigla em inglês). Os planetas dentro de uma zona habitável recebem valores entre -1HZU e +1HZU, sendo o zero o centro exato da zona”, explica ao EM Abel Mendez, diretor do Laboratório de Planetas Habitáveis da Universidade de Porto Rico. Segundo ele, os valores negativo e positivo correspondem a localizações mais próximas e mais distantes da estrela-mãe. Esse posicionamento é vital, pois um planeta muito perto ou muito longe de seu sol não comportaria vida por causa, respectivamente, das temperaturas altas ou gélidas.
O segundo critério é o índice de semelhança com a Terra, medido em uma escala de 0 a 1, sendo este último o tamanho idêntico ao do nosso planeta. Para serem considerados parecidos com a Terra, os exoplanetas precisam exibir valores entre 0,8 e 1, além de ter composição rochosa que permita uma atmosfera terráquea. Já o SPH, padrão de habitalidade primária, leva em consideração temperatura, umidade e probabilidade de haver água no local.
A medida pClass classifica os corpos celestes de acordo com três zonas termais (quente, aquecida e fria) e sete categorias de massa (veja infografia). “Essa classificação pode ser usada para qualquer planeta ou lua solar ou extrassolar”, conta Abel Mendez. Existe, ainda, uma categoria exclusiva de planetas dentro da zona habitável, chamada hClass, que mede a temperatura da superfície do planeta e sua capacidade de abrigar vida complexa.
Segundo Mendez, o catálogo de planetas, o qual chama de “tabela periódica”, é um importante instrumento de pesquisa científica, pois permite classificar novos exoplanetas a partir de uma base de dados já consolidada. “Além disso, ele aguça a curiosidade do público em geral e, quem sabe, estimula a formação de novos astrofísicos que, um dia, poderão confirmar esses dados, graças aos supertelescópios espaciais”, diz.
Dificuldades de detecção
Detectar planetas fora do Sistema Solar não é fácil. Tanto que, até o século passado, ninguém sequer sabia que eles existiam. Como não há como fotografá-los – eles estão muito longe do alcance dos telescópios e, ao contrário das estrelas, não brilham –, os cientistas os detectam de duas formas: medindo o enfraquecimento no brilho da estrela-mãe quando eles passam por seus sóis e monitorando a alteração da órbita da estrela-mãe quando os planetas
chegam perto.
Cautela com o Kepler-22b
Em um comunicado distribuído à imprensa, o Laboratório de Planetas Habitáveis da Universidade de Porto Rico informou que o Kepler-22b ainda não entrou para o catálogo como exoplaneta habitável em potencial. Embora encontre-se em uma zona habitável, de -0,59HZU, há dados conflitantes a respeito de seu raio.
No caso de ter um raio de 2,69 (tendo a Terra como parâmetro), o planeta teria uma massa muito grande, de 35 Terras, o que o classifica como um Neptunian quente (ver infografia). Na “tabela periódica” de exoplanetas, esse tipo de corpo celeste não é considerado habitável. “No nosso catálogo, a maior parte dos exoplanetas interessantes são justamente objetos identificados pelo Kepler, ainda esperando por confirmação, assim como o Kepler-22b”, diz o comunicado.
O texto também afirma que os cientistas modelaram um novo cenário, no qual a massa, ajustada ao raio de 2,38, resultaria em 9,9 Terras. Nesse caso, o Kepler-22 entraria na categoria dos mesoplanetas, sendo composto basicamente por oceanos congelados e uma fina camada de nuvens.
“É difícil acreditar que um exoplaneta com essa característica tenha água em estado líquido. Mais estudos serão necessários para incluir o Kepler-22b no conjunto de planetas habitáveis”, diz a nota.
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2011/12/07/interna_tecnologia,266127/universidade-faz-o-mais-completo-catalogo-de-exoplanetas-que-podem-abrigar-vida.shtml
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