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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Marca destrutiva de El Niño em Galápagos mobiliza cientistas

Uma inédita expedição robótica tentará descifrar os segredos de El Niño, um fenômeno natural que periodicamente deixa uma marca de morte pouco conhecida no mar das Ilhas Galápagos e sua eventual relação com as mudanças climáticas.

Ainda que não haja evidências conclusivas que relacionem os dois fenômenos, especialistas levam muito a sério a possibilidade de que as más práticas ambientais tornem mais frequente e intenso o evento climático El Niño.

"Por centenas de anos, este sistema (climático) se manteve sem o peso adicional do aquecimento global", disse à AFP Eduardo Espinoza, encarregado de Pesquisas Marinhas do Parque Nacional de Galápagos (PNG).

No entanto, ele advertiu, as mudanças climáticas associadas ao homem podem transformar o El Niño em uma sentença de morte para várias espécies marinhas únicas do arquipélago equatoriano.

"Com estudos, no futuro poderemos determinar se teremos maior intensidade e frequência destes fenômenos do El Niño com as mudanças climáticas", destacou Espinoza.

Situado a 1 mil km da costa, o arquipélago de Galápagos - laboratório natural que inspirou a teoria da evolução das espécies - sofre todo ano com a chegada do El Niño, caracterizado pelo aumento das temperaturas no Oceano Pacífico, fortes chuvas e enfraquecimento dos ventos.

A partir disso, cientistas do Instituto Oceanográfico da Marinha (Inocar), em aliança com organismo americanos de pesquisa WHOI e Scripps, lançarão em 16 de outubro uma expedição robótica para conhecer mais sobre esta anomalia.

Pelos dois anos seguintes, seis robôs mergulharão no Mar de Galápagos para coletar dados sobre a subcorrente Equatorial de Cromwell, responsável pela geração de alimentos nas águas das ilhas e envolvida no fenômeno El Niño, disse à AFP o capitão Wellington Rentería, do Inocar.

"El Niño causou estragos em Galápagos. E principalmente o aumento da temperatura fez com que praticamente todos os recifes de coral tenham desaparecido", lembrou.

Organizações como o Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos (IPSO, na sigla em inglês) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) advertiram no começo do mês que os oceanos estão sofrendo um triplo impacto: p aquecimento global, a desoxigenação e a acidificação (redução do pH).

Depois da Austrália, as ilhas Galápagos - declaradas Patrimônio Natural da Humanidade - têm a segunda maior reserva marinha do planeta, com 133.000 km2, segundo o PNG.

Entre 1982 e 1998, El Niño se abateu com força contra o arquipélago e deixou um rastro de morte: embranquecimento de colônias de corais, redução dramática de populações de pinguins de Galápagos - já em risco de extinção -, cormorões-das-Galápagos, lobos marinhos e iguanas marinhas.

Algumas espécies morreram de fome porque as algas das quais se alimentam desapareceram temporariamente. O El Niño diminui a produtividade do mar e cada grupo de animais leva anos para se recuperar. Por isso quanto maior a frequência destes eventos, menor é o tempo para o restabelecimento das espécies.

"Nas iguanas marinhas encontramos algo muito interessante porque, com o fenômeno El Niño, encolhem e emagrecem. Perdem até cinco centímetros de altura", explicou à AFP Judith Denkinger, bióloga e pesquisadora do Instituto de Ciências do Mar da privada Universidade San Francisco de Quito.

Depois de cada fenômeno El Niño - cuja frequência pode oscilar entre dois e oito anos, segundo o PNG -, as espécies levam de 15 a 30 anos para se recuperar, ou seja, restabelecer o equilíbrio entre a natalidade e a mortalidade.

No entanto, a possibilidade de que um novo fenômeno impacte com força as ilhas durante este período de recuperação "é muito grande, o que basicamente significa que a população vai para a extinção", afirma Denkinger, uma respeitada pesquisadora da vida marinha de Galápagos.

No arquipélago confluem várias correntes e subcorrentes marinhas que explicam sua enorme riqueza biológica, uma delas é a Equatorial de Cromwell, que arrasta os nutrientes que formam a vasta cadeia alimentar.

Embora seja possível caracterizar esta importante subcorrente e estabelecer sua relação com El Niño, a vida marítima de Galápagos se deteriora mais rápido do que a terrestre apesar dos esforços de conservação, segundo Denkinger.

"A parte marinha não está nada bem. Estamos preocupados com os lobos marinhos; estamos vendo uma caça intensa de tubarões dentro e fora de Galápagos, e a população humana aumenta tanto que nas regiões costeiras percebemos as mudanças; percebe-se que não há mais tantos peixes", afirmou a pesquisadora.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/clima/marca-destrutiva-de-el-nino-em-galapagos-mobiliza-cientistas,a9c7c05a38591410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

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