Há séculos os estudiosos tentam encontrar provas empíricas para a
existência do Inferno. Mas o que é o Inferno? É físico, espiritual ou
abstrato? Em meio a uma miríade de opiniões, pessoas como o poeta Arthur
Rimbaud acreditam que o Inferno são eles mesmos. Outras, como T. S.
Elliot, enxergam que se trata da própria Terra. Em um de seus ensaios,
Jorge Luis Borges indica que tanto o Paraíso quanto o Inferno seriam
fora de proporção para as ações dos homens, uma vez que estes não são
dignos de nenhum dos dois. Albert Einstein, ainda, defendia a completa
inexistência do Inferno.
A Bíblia Sagrada descreve como um local
cheio de fogo e danação localizado bem abaixo de nós, em meio a um mar
fervente de magma que acomoda as placas tectônicas. Outras doutrinas,
como o Espiritismo, sugerem que o Inferno, Umbral ou Purgatório,
acontece em uma dimensão espiritual paralela a este mundo.
Invariavelmente,
prevalece a mesma necessidade dos biólogos de descobrirem as milhares
de espécies escondidas em zonas oceânicas onde o oxigênio é deficiente.
Ou a insaciável vontade de exploradores de encontrarem mundos
naufragados nos entresseios das fossas marinhas.
Em 1989, surgiu a
história de que um grupo de geólogos russos desceu um microfone em um
poço de 14 mil metros de profundidade para detectar as perturbações
sonoras do tectonismo das placas, mas afirma ter registrado muito mais
do que isso.
Sussurros infernais
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Foi
em meados de 1970 que os cientistas russos começaram a perfurar a
superfície da Terra para tentar extrair mais informações sobre o
comportamento da crosta terrestre. Eles se instalaram na península de
Kola, no noroeste da Rússia, nomearam o poço de Kola Superdeep Borehole.
Ao
longo de 20 anos, eles conseguiram cavar mais de 12 mil quilômetros
para baixo, porém tiveram que interromper os estudos em 1992 devido às
temperaturas, que alcançaram até 1.100 graus Celsius. Nesse processo, os
pesquisadores descobriram 24 novos tipos de organismos unicelulares
mortos há séculos e extraíram fragmentos rochosos com mais de 2,7
bilhões de anos.
Em dezembro de 1989, uma história revirou a
mídia. Um grupo de geólogos foi até o poço de Kola, a fim de colher
pesquisas sobre as movimentações das placas tectônicas, e introduziu uma
sonda pelo buraco perfurado. Porém, afirmam ter detectado os sons de
gemidos e vozes — em vez de a terra se acomodando.
O equipamento
derreteu, mas a gravação estava pronta e tinha sido ouvida pelo chefe
das pesquisas, o Dr. Dmitri Azzacov e os funcionários locais. Em
entrevista a uma revista finlandesa científica chamada Ammennusastia,
o cientista revelou que antes do ocorrido não acreditava na Bíblia ou
no Paraíso, mas que a partir de então certamente passou a crer no
Inferno. Todos eles se mostraram convencidos do que ouviram e
descartaram qualquer interferência na transmissão por conta do
superaquecimento do equipamento depois que realizaram uma série de
testes.
Uma questionável veracidade
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Foi
a divisão impressa da Trinity Broadcasting Network (TBN), uma rede
cristã de televisão, que começou a noticiar matérias de capa com
manchetes como “Cientistas descobrem o Inferno”. Havia relatos e
entrevistas do Dr. Dmitri Azzacov e de seu time de pesquisadores
detalhando ainda mais o que foi ouvido no poço de Kola.
No início
de 1990, outras fontes, ainda religiosas, passaram a disseminar a
descoberta; e logo o mundo inteiro estava falando dela. Portanto, não
demorou muito para que jornalistas cavassem mais fundo ainda e erguessem
as fundações ocas do acontecimento. Por incrível que pareça, foram os
próprios jornais cristãos que promoveram essa odisseia para ir
literalmente até o fundo disso tudo.
Em julho de 1990, em um artigo intitulado Well to Hell, o jornal Christianity Today revelou a total inexistência de rastros sobre a carreira ou a vida pessoal de Dmitri Azzacov. Dois meses depois, a Biblical Archaeology Review contestou
o fato de o mundo nunca ter ouvido a suposta gravação em áudio dos sons
infernais. A TBN não transmitiu isso em seus boletins. Foi exposto que a
revista científica finlandesa Ammennusastia, que descreveu o
feito, não tinha nada de científica. Na verdade, era uma pequena revista
evangélica luterana de 1974. Quando contatado, o editor-chefe da
revista disse apenas que um de seus funcionários surgiu com essa
“história bombástica” e que não podia revelar as suas fontes.
Um incerto som
(Fonte: Bandwidth/Reprodução)
A história esfriou e só voltou em 2002, arrebentando os tabloides do mundo quando o programa Art Bell, da rádio Coast to Coast AM,
recebeu a gravação dos sons infernais de um ouvinte durante a discussão
da pauta no programa um dia antes. Assim que o arquivo foi tocado ao
vivo em rede nacional, a história se estabeleceu finalmente.
Especialistas analisaram o áudio e descobriram manipulações e um loop
da faixa em intervalos mínimos. Não passava de uma farsa, mas ainda
assim se tornou uma espécie de lenda urbana. O mais curioso, porém, é
que nas duas vezes em que o governo russo foi contatado, não houve
retorno. Eles preferiram apenas não se manifestar sobre o assunto.
Existem
fatos mais sólidos do que a própria terra que os russos cavaram
indicando que tudo não passou de um efeito Sputinik, visto que o próprio
poço de Kola parece ter representado uma espécie de corrida geológica
contra os norte-americanos para ver quem faria a primeira descoberta
mais significativa antes, ou cavaria o buraco mais fundo já feito na
Terra.
Talvez os russos quisessem a glória de terem os seus nomes
vinculados à descoberta de uma das maiores questões existenciais do
mundo. Talvez devessem ter feito isso de uma maneira mais organizada.
https://www.megacurioso.com.br/misterios/114670-sons-do-inferno-o-barulho-misterioso-captado-por-russos.htm
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