Há 66 milhões de anos, um asteroide atingiu um dos poucos pontos que
continham a "mistura perfeita" para eliminar quase toda a vida na Terra:
a costa do México. Rica em enxofre e hidrocarbonetos, as temperaturas
escaldantes na cratera de impacto acenderam esse combustível. Isso gerou
incêndios que deram uma volta ao globo, bem como jogou fuligem e
enxofre na estratosfera em uma quantidade suficiente para apagar o Sol e
mudar o clima. A história teria sido diferente se esse asteroide
tivesse caído em um ângulo diferente e em outro lugar.
Mapa
de gradiente horizontal da anomalia gravitacional de Bouguer da cratera
Chicxulub. A linha branca é o litoral, e os pontos brancos são cenotes.
Em 2016, uma equipe de pesquisadores, liderada pelo geólogo Sean
Gulick, da Universidade do Texas, e Joanna Morgan, do Imperial College
London, perfurou a Cratera Chicxulub para recuperar as rochas que se
formaram após o impacto que mudou a vida na Terra. As análises feitas e
simulações em computador sugerem que o asteroide perfurou a crosta
terrestre em uma inclinação de até 60 graus, o que foi devastador para o
planeta.
"De 45 a 60 graus, o impacto é muito eficiente na vaporização e
ejeção de detritos para grandes altitudes. Se o impacto ocorrer em
ângulos mais rasos ou muito mais agudos, a quantidade de material que é
lançada na atmosfera causaria significativamente menos mudanças
climáticas", explicou Gareth Collins, geólogo e geofísico do Imperial
College London.
Cratera com 30 km de profundidade
Apenas 13% da superfície do planeta contêm a mistura capaz de
provocar o que os pesquisadores chamaram de “a tempestade perfeita”.
Quando ela foi jogada para o ar depois do impacto do asteroide,
misturou-se ao vapor-d’água da atmosfera e produziu um "inverno global" —
prolongado e intensificado pelo ângulo de entrada do asteroide.
A lembrança desse evento cataclísmico pode ser observado na costa do
porto de Chicxulub, na Península de Yucatán, no México. Ali, uma metade
sob o mar e a outra escondida por cobertura vegetal, está uma estrutura
de 200 km de largura.
Segundo Collins, “é difícil entender a escala das forças que a
produziram”. O asteroide, com cerca de 12 km de diâmetro, ao atingir a
Terra perfurou instantaneamente um buraco que, estima-se, tinha cerca de
30 km de profundidade.
Um Everest de rocha derretida
As rochas fluidificadas na base dessa cratera acabariam por criar, em
minutos, uma montanha mais alta do que o Everest. Essa formação recuou e
formou dois anéis assimétricos, o que deu pistas sobre o ângulo de
impacto do asteroide. Collins usou a Pesquisa Distribuída em Computação
Avançada (ou DiRAC, sigla em inglês) no Centro de Computação de Alta
Tecnologia do Reino Unido (STFC) para simular a entrada do asteroide na
atmosfera da Terra.
Segundo ele, somente um asteroide vindo do nordeste e atingindo a
Terra em um ângulo de 60 graus faria o estrago que matou três quartos da
vida no planeta. "Modelos em diferentes ângulos de impacto, como a 30
ou 45 graus, não correspondem ao que observamos em Chicxulub. Se o
impacto tivesse sido direto, ou seja, a 90 graus, os centros estariam
simetricamente dispostos, um em cima do outro", explicou o especialista.
Sean Gulick, coautor do estudo publicado agora na revista Nature Communications, disse à BBC
que "um ângulo de 60 graus é um dos piores, pois tem a força para
vaporizar grandes volumes de rochas ricas em enxofre e ejetá-las na
atmosfera. Esses resultados são críticos para a compreensão do impacto
de corpos celestes na Terra".
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114663-angulo-e-lugar-de-impacto-fizeram-asteroide-dizimar-vida-na-terra.htm
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