Enquanto o mundo se digladeia com o novo coronavírus,
especialistas alertam para os riscos de uma nova pandemia num futuro
próximo causada pelo consumo de carne de animais selvagens.
Há um risco muito real de seres humanos apanharem doenças de animais
através de carne contaminada. Portanto, embora esforços estejam a ser
feitos para ajudar a conservação das espécies de animais selvagens, há o
receio das implicações reais dos seres humanos as comerem.
No meio da pandemia mais difundida que o mundo já viu, debate-se qual
é a melhor resposta do Governo, como tratar os pacientes com mais
eficácia e as repercussões económicas a longo prazo. Mas o que não pode
ser debatido é que uma pandemia desta magnitude foi antecipada por muitos.
Durante décadas, académicos ensinaram-no, investigadores
investigaram-no e as organizações não governamentais de saúde pública
tentaram preparar-se para isso. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) compilou uma lista de doenças emergentes,
as quais “provavelmente causarão surtos graves num futuro próximo”.
Cada doença nessa lista ameaçadora é “zoonótica”, o que significa que se
origina em animais, mas ou tem o potencial de saltar deles para nós ou
já o fez.
Algumas das doenças mais amplamente reconhecidas e temidas começaram noutras espécies. Salmonella, influenza, doença de Lyme e tuberculose são todas zoonóticas, juntamente com antraz, HIV, SARs, MERs, Ébola e Covid-19.
O estudo destes patógenos zoonóticos raramente é direto e a
investigação de aspetos relativamente simples destas doenças pode exigir
epidemiologia cara, demorada e complexa.
A procura pela fonte original do Ébola, por exemplo, começou nos anos
90. No entanto, apesar de uma equipa identificar com sucesso em 2018
que uma espécie de morcego é um vetor importante para a estirpe
conhecida como Ébola Zaire, os cientistas ainda não sabem ao certo se
esses morcegos são realmente os hospedeiros originais da doença.
A OMS afirma que as zoonoses – doenças provocadas por microrganismos e
que são transmitidas pelos animais para o homem – não só representam
60% das doenças encontradas em seres humanos, mas representam 75% de todas as doenças infecciosas emergentes.
É provável que o risco esteja a ficar mais grave: além do aumento da
destruição do habitat, criando um aumento nas infeções/doenças
zoonóticas emergentes, atualmente a carne de animais selvagens está a
ser transportada para todo o mundo.
Um problema global
Para aqueles que dependem da caça de subsistência em países como a
Libéria, houve algum progresso. Projetos e programas de desenvolvimento
comunitário foram introduzidos, visando o desenvolvimento de fontes de proteína mais sustentáveis e seguras.
Torna-se muito mais difícil, no entanto, quando essa “carne selvagem”
(ou carne de animais selvagens) é enviada nacional ou
internacionalmente. Combinar o potencial de doenças zoonóticas, carne
mal cozinhada ou conservada e a sua subsequente distribuição global cria
uma receita para o desastre. Embora este coronavírus mais recente tenha
originado em Wuhan, na China, o comércio global ilegal torna igualmente
possível que a próxima pandemia global possa começar em Washington ou Lisboa.
Em 2010, uma investigação realizada no aeroporto Charles de Gaulle,
em Paris, concluiu que mais de cinco toneladas de carne ilegal chegavam
ao aeroporto por semana, um número impressionante de 270 toneladas anualmente.
Este é um problema extremamente complexo. Investigadores e agências
governamentais devem trabalhar ao lado de comerciantes e consumidores
para entender melhor por que as pessoas querem carne de animais
selvagens e educar os que têm maior risco de comer carne infetada.
A sensibilidade social e cultural é primordial, mas violações claras da lei precisam de ser impostas para ajudar a impedir o surgimento da próxima pandemia zoonótica.
https://zap.aeiou.pt/carne-animais-selvagens-proxima-pandemia-325172
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