Oposição está disposta a pedir
impugnação de Dilma Rousseff. Mas, apesar de os argumentos se terem
aproximado do chamado impeachment, a cautela ainda reina.
Aécio
Neves é a figura mais importante da oposição a Dilma. Tem aproximado o
discurso do impeachment mas diz que é preciso provas UESLEI
MARCELINO/REUTERS
O maior partido da oposição no
Brasil, o PSDB do derrotado presidencial Aécio Neves, parece ter mudado
de estratégia em relação ao pedido deimpeachment – impugnação – da
Presidente Dilma Rousseff. Se, antes das grandes manifestações que
exigiram a saída da Presidente, o PSDB afirmava com clareza que o
impeachment não fazia parte dos seus planos, na última semana,
procurando capitalizar o descontentamento nas ruas e aproveitando a
crise de popularidade de Dilma, o partido aproximou-se à defesa do
afastamento da Presidente do Brasil.
O debate, contudo,
está muito activo no interior do partido e o seu líder, Aécio Neves,
continua a ser prudente na abordagem à figura do impeachment. Neste
domingo, na coluna de opinião para o diário brasileiro Folha de São
Paulo, Aécio abordou o tema: apesar de o impeachment ter de percorrer um
caminho de “legalidade” para ser “solução legítima”, para o líder do
PSDB “o papel das oposições neste momento é não se acovardar”.
O
PSDB, aliás, aliou-se aos Verdes, Partido Popular Socialista e
Democratas e, em bloco, dizem que estão a analisar a possibilidade de
avançarem para um pedido de impeachment, embora ainda não se tenham
comprometido com o processo. Um ponto central para esta decisão será o
parecer jurídico encomendado pelo PSDB sobre a utilização dessa figura
jurídica, que deve ficar pronto esta semana.
Aécio,
assegura a revista Veja na sua edição desta quarta-feira, está sob
pressão do grupo de apoiantes do impeachment dentro do partido. São os
opositores do “sangramento” e têm uma forte presença no Congresso
brasileiro – entre eles estão os líderes do partido na Câmara dos
Deputados e Senadores. O “sangramento” foi a modalidade adoptada pelo
PSDB em relação a Lula da Silva durante o processo do Mensalão. O
partido optou por deixar “sangrar” Lula em 2005 e não atacá-lo
directamente com oimpeachment. No ano seguinte, o ex-Presidente do
Brasil venceu as eleições.
Mas há uma voz poderosa no
PSDB que vai contra esta tendência. Fernando Henrique Cardoso, o
ex-Presidente do Brasil e líder honorário do PSDB, é uma das figuras
maiores do debate no partido e o principal representante da ala
anti-impeachment. “Impeachment não pode ser tese”, disse o ex-Presidente
no domingo. “Não pode transformar seu eventual desejo de que talvez
fosse melhor outro Governo, e não pode fazê-lo fora das regras da
democracia”, defendeu. Não existe nenhuma suspeita ou acusação judicial
sobre a Presidente do Brasil e, por isso, a figura de impeachment
aproxima-se do “golpismo” (expressão utilizada pelos defensores do
executivo).
Razões contrárias, clima alterado
Há
várias razões para a cautela de Aécio Neves e para a oposição de
Fernando Henrique Cardoso à utilização do impeachment. A coligação do
Governo está hoje mais coesa do que em Março, mês dos maiores protestos.
Dilma Rousseff acomodou o seu principal parceiro, o PMDB, ao nomear
Henrique Alves para ministro do Turismo. E um pedido de impeachment terá
de passar primeiro pela Câmara dos Deputados e, depois, pelo Senado. Se
a coligação e, sobretudo, o PMDB se mantiver com o Partido dos
Trabalhadores (PT) de Dilma, o processo de destituição morrerá à
nascença.
Há um segundo argumento contrário, que é
disputado por alguns elementos do PSDB. O ponto central de um pedido de
impeachment tem obrigatoriamente de passar por um crime de
responsabilidade de Dilma ou de um crime eleitoral. E, se é verdade que o
PT se encontra sob fogo pela sua proximidade ao escândalo de corrupção
na Petrobras, é certo também que Dilma não foi acusada de nenhum crime.
Mas
alguns elementos do PSDB vêem brechas na defesa da Presidente do
Brasil. Nesta semana, o agora ex-tesoureiro do PT foi detido pela
polícia e encontra-se em prisão preventiva pelo envolvimento na rede de
corrupção na Petrobras. O segundo argumento poderia passar por
irregularidades eleitorais – os tribunais investigam o alegado papel dos
Correios no Brasil na distribuição de panfletos eleitorais de Dilma –, e
por um outro crime de responsabilidade: o Tribunal de Contas acusou o
Governo de mascarar as contas públicas ao retardar despesas do Estado.
Até
agora, e apesar da pressão de alguns elementos do PSDB, os argumentos
favoráveis ao impeachment de Dilma ainda não convenceram Aécio Neves.
Mas o líder do maior partido da oposição parece disposto a acolher a
defesa de um processo de destituição caso haja provas contra Dilma. Como
o próprio escreve no Folha de São Paulo, o seu papel “é exigir
investigações”.
Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/a-oposicao-brasileira-esta-entre-o-impeachment-e-o-sangramento-1693274
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