Entre tantas incertezas sobre o Sars-CoV-2, há uma unanimidade: ele
tem um efeito devastador no corpo humano, atacando pulmões, intestinos,
rins, coração, cérebro, fígado… nada parece escapar.
Nessa corrida contra o tempo, pesquisadores agora conseguem ver como o
vírus causador da atual pandemia age, graças aos organoides, pequenas
bolas de tecido diferenciado cultivadas em laboratório e que mostram
para onde o vírus viaja, quais células infecta e que danos causa.
Uma célula intestinal sendo atacada pelo Sars-CoV-9 (pontos escuros).
A ação do coronavírus
em seu órgão preferido, o pulmão, é o que está sendo estudado na Kyoto
University, no Japão. O biólogo de células-tronco Kazuo Takayama e sua
equipe desenvolveram organoides como brônquios. Infectados com
Sars-CoV-2, eles mostraram que o vírus ataca principalmente
células-tronco que se diferenciam em células basais nesse tecido.
O próximo passo do trabalho, publicado no repositório de artigos sobre ciências biológicas bioRxiv, será estudar se o vírus pode se espalhar para outras células.
Pulmões, o principal alvo
Pulmões também foram os escolhidos para serem reproduzidos em placas
de Petri pelo biólogo de células-tronco Shuibing Chen, da Weill Cornell
Medicine. Seu estudo mostrou não apenas a morte das células atacadas
como também que a investida do vírus pode ter, como resposta, uma
produção maciça de citocinas, o que leva a uma ação imune devastadora e,
por vezes, fatal.
"Por que as células do pulmão estão morrendo nos pacientes continua
sendo um mistério; sabemos o que as mata, mas não sabemos bem como",
disse Chen, que também publicou os resultados de sua pesquisa no bioRxiv.
Para a bióloga de células-tronco Núria Montserrat, do Institute for
Bioengineering of Catalonia, que também está estudando os efeitos do
vírus nos pulmões, a pesquisa avança mais rápido porque "organoides
podem ser cultivados para incluir vários tipos de células e assumir a
forma do órgão original em semanas".A destruição se espalha pelo sangue
Organoides mimetizando o tecido que reveste os vasos sanguíneos
(endotélio) mostraram que o vírus pode infectá-lo, permitindo que
partículas virais vazem para o sangue, entrando na corrente sanguínea e
alcançando todo o corpo.
Pelo sangue, o vírus circula até alcançar órgãos como rins e fígado,
segundo o trabalho do biólogo celular Bing Zhao, da Fudan University, em
Xangai (China), que publicou seu trabalho com organoides na revista Protein & Cell.
O organoide de células do fígado mostra o ataque do vírus Sars-CoV-2 (em vermelho).
Um estudo publicado na Science revelou, ainda, que o vírus se replica também nas células que revestem os intestinos delgado e grosso.
Em branco, pode-se distinguir as regiões atacadas pelo coronavírus no organoide intestinal à direita.
Cura in vitro
Na outra ponta, os mesmos organoides infectados que mostram a
destruição do Sars-CoV-2 são usados como modelos de como as drogas
testadas para futuras terapias contra a covid-19 reagem no corpo humano —
algumas já na fase de ensaios clínicos.
Com os minipulmões cultivados, Shuibing Chen testou 1,2 mil
medicamentos aprovados pelo governo norte-americano e descobriu que um
deles, oncológico, suprime o Sars-CoV-2. Ainda não é possível, porém,
reproduzir em laboratório o que acontece nos hospitais nem as sequelas
que a doença pode deixar em quem sobrevive a ela
"Os estudos em organoides infectados não refletem o que acontece no
corpo; os resultados precisam ser validados em modelos animais e estudos
clínicos", disse à Nature o virologista Bart Haagmans, da Erasmus University Medical Center.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114993-miniorgaos-mostram-o-efeito-devastador-do-coronavirus.htm
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